terça-feira, 26 de janeiro de 2016

100 anos de Pelo Telephone na masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 3

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 3



100 anos de Pelo Telephone

Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional”.
“Foi concebido em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. A melodia, originalmente, intitulava-se Roceiro e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô”.
Gravado na Casa Edison* através do selo Odeon Records, na voz de Bahiano.
Lançado em 20 de janeiro de 1917.
A Composição é de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido como Donga, nascido no Rio de Janeiro, 5 de abril de 1890 e falecido na mesma cidade em 25 de agosto de 1974, com 84 anos.
Mais, depois, o próprio Donga dividiu o credito com o jornalista Mauro de Almeida.
Mauro de Almeida (Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1882 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 1956) foi um teatrólogo, jornalista e compositor brasileiro.
Começou a carreira de jornalista na redação de A Folha do Dia, do Rio de Janeiro, como repórter policial e cronista carnavalesco.
Como compositor, entrou para a história da música popular brasileira por ter escrito em coautoria com Donga a letra de Pelo Telefone, oficialmente o primeiro samba gravado. Em 1918 compôs com Pixinguinha e Donga o samba O malhador, que foi interpretado por Baiano e gravado na gravadora Odeon.
Escreveu diversas peças de teatro, entre as quais Presidente antes de nascer, Adeus, Não lhe pague, Amor e modas, Viúva alegre, Com a corda no pescoço, Desarvorada do amor, Do cruzeiro ao cruzeiro, Cozinheira grã- fina, Decadência e Sempre chorada, algumas feitas em parceria com Luís Rocha e Cardoso de Meneses.
Foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), em 1917.

Mauro de Almeida  é colaborador na letra de O Roceiro, da parte que citava o telefone, que estava ganhado espaço no Distrito Federal/Rio de Janeiro, letra esta que foi apresentada no Cine-Theatro Velo e para a imprensa, em 1916, e também, nas modificações feitas por Donga para registar “ o Pelo Telefone”.
Concluindo: Graças ao êxito de O Roceiro, foi que o experto Donga a registrou, com algumas poucas modificações de Mauro de Almeida, na Biblioteca Nacional e em Cartório no final de 1916.
E assim entraram para a História do primeiro samba gravado no Brasil.
“ Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, nos anos 60, Donga daria outra versão (dilatando cada vez mais a lenda): a de que os autores da paródia eram os repórteres e que a letra fora mudada para "evitar complicações com as autoridades". Fonte: http://www.brasileirinho.mus.br/artigos/pelotelefone.html, por Marcelo Xavier
Num artigo de “ de fundo do Jornal do Brasil de 1917, indicando a co-autoria de João da Mata, Germano, Tia Ciata e Hilário”.
Foi composto num sarau de Tia Ciata, numa roda de partido-alto, portanto...
 “Mauro, em artigos de jornal, dizia que não havia motivos originais em "Pelo Telefone". O seu papel na criação era catalisar temas que flanavam pelas ruas, como os personagens de João do Rio. À época, o célebre "Peru dos Pés Frios" (como era conhecido) dizia que apenas acomodou os versos para a música que Donga havia lhe apresentado. "Tirei-os de trovas populares", revelou, pouco tempo antes de morrer. Alguns especialistas indicam que o refrão "ah, se a rolinha, sinhô, sinhô" seria um típico tema do Norte”, ou seja, “ de acordo com Bernardo Alves, "o Samba pernambucano aproveitado em 'Pelo Telefone'" tinha como letra original "Olha a rolinha/ Doce, doce/ Mimosa flor/ Doce, doce/ Presa no laço/ Doce, doce/ Do nosso amor/ Doce, doce." (in: A Pré-História do Samba, 2002, págs. 67-8).
“ Após o sucesso no Carnaval daquele ano, um jornal ainda publicou uma nova letra para "Pelo Telefone", dessa vez criticando tal usurpação de seu verdadeiro autor: "Pelo telefone/ A minha boa gente/ Mandou-me avisar/ Que o meu bom arranjo/ Era oferecido/ Para se cantar/ Ai, ai, ai, leva a mão à consciência, meu bem/ Ai, ai, ai por que tanta presença, meu bem/ Ó que caradura dizer na roda/ Que o arranjo é teu/ É do bom Hilário e da Velha Ciata/ Que o bom Sinhô escreveu/ Tomara que tu apanhes/ Pra não tornar a fazer isso/ Escrever o que é dos outros/ Sem olhar o compromisso." Fonte: http://www.brasileirinho.mus.br/artigos/pelotelefone.html , por Marcelo Xavier

Letra de Pelo Telefone:

O chefe da folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar

Ai, ai, ai
É deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás

Tomara que tu apanhe
Pra não tornar fazer isso
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço

Ai, se a rolinha, sinhô, sinhô
Se embaraçou, sinhô, sinhô
É que a avezinha, sinhô, sinhô
Nunca sambou, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

O peru me disse
Se o morcego visse
Não fazer tolice
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse-não-disse

Ah! ah! ah!
Aí está o canto ideal, triunfal
Ai, ai, ai
Viva o nosso carnaval sem rival

Se quem tira o amor dos outros
Por deus fosse castigado
O mundo estava vazio
E o inferno habitado

Queres ou não, sinhô, sinhô
Vir pro cordão, sinhô, sinhô
É ser folião, sinhô, sinhô
De coração, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

Quem for bom de gosto
Mostre-se disposto
Não procure encosto
Tenha o riso posto
Faça alegre o rosto
Nada de desgosto

Ai, ai, ai
Dança o samba
Com calor, meu amor
Ai, ai, ai
Pois quem dança

Não tem dor nem calor

“ E a polêmica não acaba aqui. A própria letra também é uma fonte de lendas que começa na sua concepção até trechos meramente paródicos que a tradição cuidaria de incorporar à música. Sabe-se que a origem dos primeiros versos é histórica. Tudo teria começado quando dois repórteres do jornal A Noite, Castelar de Carvalho e Eustáquio Alves, resolveram instalar, de brincadeira, uma roleta na entrada do vespertino, tentando provar que o Chefe da Polícia do Rio, Aurelino Leal, fazia vistas grossas à prevaricação na cidade, apesar do pretenso combate prometido. Por pelo menos dois dias, a redação se transformou na capital da jogatina.
Foi quando o jornal de Irineu Marinho publicou matéria denunciando a suposta negligência da polícia, tentando desmoralizar Aurelino. Como as diligências eram informadas por via telefônica, a história correu solta. E a letra ficou assim:
"O Chefe da polícia/ Pelo telefone/ Mandou me avisar/ Que na Carioca/ Há uma roleta/ Para se jogar..."
Contudo, Donga disse, tempos depois, que a letra original era
"O Chefe da folia/ Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que com alegria/ Não se questione/ Para se brincar."
Não é o que ele canta ao receber das mãos de Hebe Camargo, ao ledo de Chico Buarque, um troféu como podemos ver no:


 https://youtu.be/X99_DMzHPNg  

Mais pelo sim, ou pelo não, nesse ano celebramos os 100 anos, o centenário, da gravação de “ Pelo Telephone”, e ponto final no assunto.



Donga organizou com Pixinguinha a Orquestra Típica Donga-Pixinguinha.
Em 1919, ao lado de Pixinguinha e outros seis músicos, integrou, como violonista, o grupo Oito Batutas, que excursionou pela Europa em 1922.


Graças aos subsídios proporcionados por Arnaldo Guinle e o empresário Roberto Marinho, do jornal O Globo, que eles puderam se apresentar Brasil afora e no exterior.

Em 1926 integrou a banda Carlito Jazz.
Em 1940 Donga gravou nove composições (entre sambas, toadas, macumbas e lundus) do disco Native Brazilian Music, organizado por dois maestros: o norte-americano Leopold Stokowski e o brasileiro Villa-Lobos, lançado nos Estados Unidos pela Columbia.
No final dos anos 50 voltou a se apresentar com o grupo Velha Guarda, em shows organizados por Almirante. Enviuvou em 1951, casou-se novamente em 1953 e foi morar no bairro de Aldeia Campista, para onde se retirara como oficial de justiça aposentado. Doente e quase cego, viveu seus últimos dias na Retiro dos Artistas.
Está sepultado no Cemitério São João Batista.

Álbuns
1928. Não diga não / Carinhoso: Gravadora Parlophon
1928. Teus beijos: Gravadora Parlophon
1928  Lamento/Amigo do povo: Gravadora Parlophon
1929  O meu tipo: Gravadora Parlophon
1938  O corta jaca / Pelo telefone: Gravadora Odeon

Casa Edison foi uma das primeiras gravadoras brasileiras, fundada em 1900 por Fred Figner ou Frederico Figner, um emigrante tcheco de origem judaica e honrado, post-mortem, com o merecido título de “o mais brasileiro de todos os estrangeiros”, no Rio de Janeiro.
Importava e revendia cilindros fonográficos (utilizados nos fonógrafos de Thomas Edison) e discos (utilizados nos gramofones de Emil Berliner).
Em 1902, lança o que é considerada a primeira música brasileira gravada no país, o lundu ‘Isto É Bom’ do compositor Xisto Bahia na voz de Bahiano.
Desde a fundação, passa a ser representante da Odeon Records administrando os vários selos que a empresa alemã possuía e, a partir de 1912, também a fábrica que aquela companhia abriu no Rio de Janeiro naquele ano.
Em 1926, a gravadora perderia a representação da Odeon e, no ano seguinte, passaria a gravar pelo selo Parlophone até que, em 1932, sairia definitivamente da indústria fonográfica, passando a operar com máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos até encerrar suas atividades em 1960.


Bahiano, no civil Manuel Pedro dos Santos, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia, no dia 5 de dezembro de 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 15 de julho de 1944, foi pioneiro nas gravações fonográficas na Casa Edison, com o lundu de Xisto Bahia, Isto É Bom, primeiro disco para gramofone gravado no Brasil.
Dentre os gêneros mais abundantes em sua discografia estavam as modinhas e os lundus.
Gravou, em janeiro de 1917, o samba Pelo Telefone considerado a primeira gravação fonográfica de um samba.
Era conterrâneo e amigo de Tia Ciata.




Os Grandes do Samba
Da esquerda para a direita:
Cascata, Donga, Ataulfo Alves, Pixinguinha, João da Baiana, Ismael Silva,

Alfredinho do Flautim.

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 2



Continuação:
A Voz do Morro:   
Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba
Essa melodia de um Brasil feliz
Essa maravilha cima é de Zé Kéti, nome artístico de José Flores de Jesus, nascido no Rio de Janeiro, no Bairro de Inhaúma, em 6 de outubro de 192.
Na mesma cidade morreu de falência múltipla dos órgãos aos 78 anos em 14 de novembro de 1999.
A Voz do Morro, também, foi o nome de um conjunto formado na década de 1960, por Zé Kéti, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé Cruz e Oscar Bigode.

Esse primor narra suscintamente a História do Samba que teve início na Cidade Nova.
O que era a Cidade Nova?
Simplificando as informações:
“ O nome "Cidade Nova" tem registros que remontam ao período do reinado de D. João VI. Até o início do século XIX, a região era um alagadiço que servia de rota de passagem entre o Centro e as zonas rurais da Tijuca e São Cristóvão. Com os aterros feitos com a intenção de melhorar esta travessia, surgiu o projeto de impulsionar o crescimento da cidade para a área, vindo daí o nome”.
Ou
Em tempos passados, a região ou bairro da Cidade Nova era conhecida como Mangue, por ter sido um alagadiço pantanoso com vegetação de manguezal. A região também ficou conhecida como "Aterrado", devido à um caminho feito sobre aterro, ainda no tempo de Dom João VI para ligar o centro da cidade ao Paço Real de São Cristóvão, atual Museu da Quinta da Boa Vista. A região da atual Cidade é área compreendida entre os antigos Manguezais da Gamboa Grande indo até o extinto Saco de São Diogo ou Saco de São Cristóvão. Para se situar, o Saco de São Cristóvão era um grande braço de mar, cujas aguas chegavam ante o atual encontro das Avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas.
Nesta região, no início do Século 19, uma parte da mesma foi aterrada, dando surgimento ao chamado "Campo de Marte", utilizado para manobras militares e exercícios de tiros de tropas da Coroa.
A região ficou conhecida como Aterrado no Século 19 devido ao "Caminho do Aterrado ou Caminho das Lanternas", construído no tempo de D. João VI, para trafego de carruagens da família Real ruma ao Palácio de São Cristóvão.
Este caminho também aberto sobre aterro, viria a ser a Rua Senador Euzébio (depois Rua São Pedro da Cidade Nova), que passava pela "Ponte dos Marinheiros", ponte esta que existia onde hoje existe um cruzamento de grandes viadutos na junção das Avenidas Presidentes Vargas e Francisco Bicalho.
Veja algumas cenas que mostram a evolução urbana e os aterros das áreas adjacentes ao antigo Saco de São Cristóvão e Manguezal de São Diogo. Sobre o manguezal hoje situa-se a Cidade Nova.
Na metade do Século 19, a área sofreu grande impulso, quando o Barão de Mauá construiu e instalou na Senador Eusébio (depois Rua São Pedro da Cidade Nova), em 1851, o antigo Gasômetro ou Fábrica de Gás. O projeto do gasômetro era de um engenheiro inglês chamado Guilherme Bragge.
Em 1857 o mesmo Barão de Mauá, também construiu sob regime de administração o Canal do Mangue, drenando e saneando as águas que se espalhavam pelo local.
Este canal foi construído substituindo uma vala que existia no local, entre as Ruas Visconde de Itaúna e Senador Eusébio.
A Rua São Pedro da Cidade Nova (antiga Senador Eusébio) deixou de existir com a abertura da Avenida Presidente Vargas na década de 1940, Século 20, quando esta rua e a Visconde de Itabuna, uma outra rua paralela que ficava do outro lado do Canal do Mangue se fundiram e passaram a se chamar Av. Presidente Vargas.
Entretanto, a calçada da Av. Presidente Vargas do lado do Gasômetro, seria a antiga calçada da extinta Senador Eusébio ou Rua São Pedro da Cidade Nova.
Até o ano de 1895, ainda existiam pântanos na área onde hoje existe a Estação do Metrô do Estácio, área em frente ao Centro de Convenções Sul América, Prédios Prefeitura e indo até o edifício do Tele Porto na Rua Visconde de Duprat. Foi nesta época que estas áreas foram aterradas com terras que vieram do desmonte do Morro do Senado. Em função destes aterros, surgiram as ruas Pinto de Azevedo, Pereira Franco, Machado Coelho (antiga Rua dos Bondes), Visconde de Duprat entre outras.
Na década de 1940 inúmeras demolições ocorreram na área para a abertura da grandiosa e ampla Av. Presidente Vargas. Se veio o chamado "progresso" para a cidade, a avenida transformou a Cidade Nova em um bairro de passagem que entrou em total decadência passando a ser ocupado por cortiços e zonas baixo meretrício”.

Outro:
“ A Cidade Nova passou a ser caracteristicamente um bairro proletário, de pequenas casas operárias. Nele, localizava-se a antiga praça 11 de Julho, que seria destruída com as obras de abertura da Avenida Presidente Vargas. Entretanto, parte da Cidade Nova manteve a denominação de Praça Onze, em referência ao antigo logradouro, apesar disso, curiosamente, a Praça Onze não faz parte do bairro da Cidade Nova, fazendo parte do bairro do Centro, pois fica depois do Viaduto 31 de Março, divisa oficial dos dois bairros”.

“O "Largo do Rocio Pequeno" tornou-se a Praça 11 de junho, data da Batalha do Riachuelo, o Combate Naval do Riachuelo culminou com a derrota dos paraguaios, representando o fim da primeira fase da guerra, onde se distinguiu Francisco Manuel Barroso da Silva, Barão do Amazonas - em homenagem à nau capitânia que comandava na batalha do Riachuelo-  o Almirante Barroso,  era delimitada pelas ruas de Santana (a leste), Marquês de Pombal (a oeste), Senador Euzébio (ao norte) e Visconde de Itaúna (ao sul)”.
“ As etnias mais populares no entorno da Praça Onze eram os negros (na maioria oriundos da Bahia), seguidos pelos judeus de várias procedências, tanto que por ali morou e trabalhou Adolpho Bloch (Avram Yossievitch Bloch) junto com a família, que em 1923 comprou uma pequena impressora manual e começou rodando folhas numeradas para o ilegal Jogo do Bicho”.
“ Com a Abolição, os libertos se instalaram nas precárias "casas de cômodos" tendo como centro público das atividades a Praça 11 de Junho”.
Foi por causa da superlotação das casas ao redor da Praça 11, os soldados que participaram da Guerra de Canudos subiram as encostas do Morro da Favela, e lá construíram seus casebres, e de onde surgiu a terminologia “ Favela”.
Portanto, a Praça 11 era “ o reduto por excelência dos negros cariocas”.

E FOI ONDE NASCEU O SAMBA.




Na casa da Mãe de Santo e quituteira baiana dona Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata.
Tia Ciata, filha de Oxum, nasceu na terra dos Velosos (Maria Betânia e Caetano), ou seja, em Santo Amaro da Purificação em 1854, sendo iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô, nome civil Rodolfo Martins de Andrade, um babalawo africano.
Babalawo (em yoruba: bàbáláwo pronúncia babalauo) é o nome dado aos sacerdotes exclusivos de Orunmilá-Ifá do Culto de Ifá na religião yoruba, das culturas Jeje e Nagô. Estes não necessariamente entram em transe, sua função principal é a iniciação de outros babalawos, a preservação do segredo e transmissão do conhecimento do Culto de Ifá para os iniciados”.

Tia Ciata mudou-se para o Rio de Janeiro com 22 anos, em 1876, por causa da perseguição e fortíssima repressão policial a sua crença, e com outras Irmãs de Santo foi morar na “ região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores”.
Embuchada por Noberto da Rocha Guimarães um companheiro que não deu certo, tiveram uma filha de nome Isabel.
Para sustentar a Isabel, nome da Princesa que assinou a Lei Aurea, a nobre Tia Ciata, vestida com as vestes tradicionais das baianas, foi trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, local onde seu “tabuleiro ficou famoso por ser farto, repleto de quitutes, de bolos e manjares, tanto que era frequentado por transeuntes de todas as classes sociais”.
No Rio se tornou “ A Mãe Pequena, a Iyakekerê, a segunda pessoa mais importante em um terreiro de candomblé, que na ausência da ialorixá ou do babalorixá, assume o comando do terreiro da Casa do babalorixá João Alabá, a primeira casa de candomblé no Distrito Federal, um terreiro de Candomblé na rua Barão de São Félix, na Gamboa”.
Boa pessoa, encontrou em João Batista da Silva, um negro bem-sucedido, o companheiro de sua vida, tanto que tiveram 14 filhos, e com quem foi morar na Praça 11.
Ali conquistou uma boa reputação, tanto que ela se conta essa História:   
“ Normalmente, a polícia perseguia os sambistas, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:
"Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:
"Quem precisa de caridade que venha cá."
Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos.
O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.
Fim da História.
“ Em 1910, morreu o respeitado João Batista da Silva, mas Tia Ciata continuou a mesma recebendo em sua casa, organizando os famosos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes”. “Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse”.
Mestra no Samba do partido-alto, portanto uma das conhecedoras dos segredos do samba-dança mais antigo, tanto que foi reconhecida como grande ‘partideira’.
Em sua casa na Praça 11 se reuniram os Três Grandes, Donga, Sinhô e João da Baiana, e com isso sua casa “é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”.
A “ Deixa Falar” é considerada a primeira escola de samba do Brasil, nascida no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, que  para muitos era só um Bloco de Carnaval, depois dele ou dela vieram O Conjunto Oswaldo Cruz, do Bairro Osvaldo Cruz, hoje o mui querido Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, e o Bloco Estação Primeira, que hoje é a tradicional Estação Primeira de Mangueira ( Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira), e todos eles “nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, consideravam que era "obrigatório" passar diante da Casa de Tia Ciata, onde foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Bahiano, nascido também em Santo Amaro da Purificação.”
“Com 70 anos completos, Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, que no seu atestado de óbito, está como Hilária Pereira de Almeida, e numa petição para sócio do Clube Municipal encaminhada por seu filho João Paulo em 1949, este escreve o nome da mãe como Hilária Pereira Ernesto da Silva. Dúvidas documentais sem maior importância, morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata”.

“Tia Ciata era uma mulher muito respeitada”.


A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - autor: Jorge Eduardo Fontes Garcia

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA


No antigo Recife havia um grupo de negros conhecidos com SEMBA, e eram bons dançarinos. Não formavam uma nação, nem tão pouco uma grande tribo, eram parte dos bantos para lá levados.
Dizem que as negras sembas eram fogosas, prá la de sexuais, pela maneira como davam as suas ‘ umbigadas’ enquanto dançavam a famosa “ A masemba”- dança erótica de origem angolana ”.
“ Masemba significa umbigadas, portanto o plural de semba /umbigada, dança esta que deu origem ao " lundu ou lundum”, de "kalundu", um ser sobrenatural que dirige os destinos do homem”.
Apesar do lundum ser muito apreciado pelo senhor Dom Pedro de Alcântara, para mim “ O Pedroca”, que gostava de viver bem a vida, e foi nosso primeiro Imperador, para diferenciar do seu filho, também, Pedro de Alcântara, que me parece um chato de galocha, ele – o lundum-  era considerado, desde os tempos de Dom Manuel, o venturoso, como “contrário aos bons costumes”, e assim continuava , pois tanto a Corte vinda de Lisboa, quanto os habitantes , nativos ou não, que aqui estavam nos tempos dos Vice-Reis eram ‘tacanhos pra chuchu’.
Segundo André Diniz, pesquisador de música popular brasileira, em seu Almanaque do Samba – A história do Samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir – Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2006, “ Em terras brasileiras, a dança do lundu foi cultivada por negros, mestiços e brancos e, durante o século XIX, o lundu virou lundu-canção, sendo apreciado em circos, casas de chope e salões do Império”.
“ O lundum saiu de evidência no início do século XX, mas deixou seu legado, principalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe”.
“Pelo lundum ter a base rítmica africana, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, pelos rebolados e por outros gestos que imitam, é que ele é considerado um herdeiro da Masemba”.
Mais, o lundum foi levado do chamado “ mundo rural”, do ambiente mais periférico e ruralista, para o salão, num baile de carnaval na cidade do Rio de Janeiro, por um mulato chamado Maxixe, que o dançava num ritmo diferenciado.
No lundum a turma bate palmas, enquanto um casal dança.
No maxixe todo mundo dança ao mesmo tempo.
Daí ser considerada a primeira dança de salão realmente brasileira.
Ora, o local onde se mais dançava o maxixe era na Cidade Nova, bairro do Rio de Janeiro, local de negros, de ex- escravos, de seus descendentes e familiares.
Contudo, o maxixe – como a masemba e o lundum -  tinha um forte apelo sensual gerando preconceitos, e por isso considerado indecente.
Chiquinha Gonzaga, uma mulata, filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves de Lima, uma negra de origem humilde, a primeira mulher brasileira a reger uma orquestra, “ que desde cedo, frequentava rodas de lundu, umbigada e outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos”.
“Por volta de 1900, Chiquinha Gonzaga conheceu a irreverente artista Nair de Tefé, a primeira caricaturista mulher do mundo, uma moça boêmia, embora de família nobre, que se casou com o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca”.
Nair de Tefé convidou Chiquinha Gonzaga para os saraus no Palácio do Catete, e a compositora ousou, pois durante um deles foi lançado o “ Corta-Jaca”, um maxixe composto por ela, “sendo acompanhada no violão pela própria Primeira-dama”.



Eu sou fã de Dona Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, que nasceu no meu querido Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 e faleceu quando começava o Carnaval no dia 28 de fevereiro de 1935, uma mulher avant-garde como minha bisavó, Dona Minervina da Silva Alves, recifense, que de tão parecidas se diria que eram irmãs.
Letra do Corta-Jaca:
Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição

Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!

Esta dança é buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem dançar
Não há ricas baronesas
Nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar

Este passo tem feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó

Quem me vir assim alegre
No Flamengo
Por certo se há de render
Não resiste com certeza
Com certeza
Este jeito de mexer

Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso
Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta
Está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!

 

Reconhecido, mas considerado escandaloso, pois “ foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças vulgares, segundo a concepção da elite social aristocrática. Levar para o Palácio do Governo a música popular brasileira foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos”, o maxixe continuou sua trajetória, até que nasceu o SAMBA.

Continua. 

CORTA-JACA letra por Lysia Condé



Letra do Corta-Jaca:
Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição

Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!

Esta dança é buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem dançar
Não há ricas baronesas
Nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar

Este passo tem feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó

Quem me vir assim alegre
No Flamengo
Por certo se há de render
Não resiste com certeza
Com certeza
Este jeito de mexer

Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso
Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta
Está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!


O Corta Jaca! Chiquinha Gonzaga ( Rio Antigo ).wmv





https://youtu.be/4wfrA54BMZg?list=RD4wfrA54BMZg

Cometer esse ato de racismo? EU NÃO. Autor: Jorge Eduardo Fontes Garcia


Cometer esse ato de racismo?
EU NÃO.

OBRIGADO MEU POVO POR OU PELO:
"Berimbau" vem de mbirimbau.
"Bunda" vem de mbunda.
"Cachimbo" vem de kixima, palavra que também originou "cacimba".
"Caçula" vem de kasule.  
"Cacunda" vem de kakunda. "
Cafuné" vem de kifunate, "torcedura".
"Calango" vem de kalanga.
"Camundongo" vem de kamundong.
"Canjica" vem de kanjika.
"Capanga" vem de kappanga.
"Carimbo" vem de kirimbu, "marca".
"Caxinguelê" vem de kaxinjiang'elê, "rato de palmeira".
"Cochilar" vem de kukoxila.
"Curinga" vem de kuringa, "matar".
"Dendê" vem de ndénde, "palmeira".
"Farofa" vem de falofa.
"Fubá" vem de fuba.
"Ganja" (no sentido de "vaidade") vem de nganji.
"Ganzá" vem de nganza, "cabaça".
"Jiló" vem de njilu.
"Macumba" vem de ma´kumba.
 "Marimba" vem de marimba.
"Marimbondo" vem de ma (prefixo de plural) + rimbondo, "vespa".
"Maxixe" vem de maxi'xi.
"Mocambo" vem de mu´kambu, "cumeeira".
"Molambo" vem de mu´lambu, "pano".
"Moleque" vem de mu´leke, que significa "menino".
"Moqueca" vem de mu´keka.
"Muamba" vem de mu´hamba, "carga".
"Mucama" vem de mu´kama, "amásia escrava".
"Mugunzá" vem de mu´kunza, "milho cozido".
"Murundu" vem de mulun'du.
"Muxiba" vem de mu´xiba, "nervo, veia".
"Quiba" e "quibas" vêm de kiba, "pele, couro".
"Quenga" vem kienga, "tacho".
 "Quibebe" vem de kibebe.
""Quilombo" vem de kilombo, "povoação".
"Quitanda" vem de kitanda, "feira".
"Quitute" vem de kitutu, "indigestão". "Samba" vem de semba, "umbigada". "Senzala" vem de sanzala.
"Tanga" vem de tanga, "pano".
"Tungar" vem de tunga, "madeira, pancada".
"Tutu" vem de ki´tutu.
"Umbanda" vem de umbanda, "magia".
"Xingar" vem de kuxinga, "injuriar".
Muitos alimentos cultivados e consumidos pelas populações bantas se incorporaram à alimentação cotidiana da população brasileira, como o jiló, a melancia, o maxixe, a galinha d'angola, o quiabo, o azeite de dendê e o feijão-fradinho.
OBRIGADO, MUITO OBRIGADO.

Sou adepto do ‘relativismo cético’, portanto para mim não existe uma verdade absoluta.
Contudo creio que “ todo ponto de vista é válido”, o que dá base para o dilatado popular “a Verdade tem dois lados”, o que é um fato.
Creio que a verdade é relativa, já que alguns fatos podem ter sido verdade no passado, não serem mais verdade no presente, nem tão pouco verdade no futuro, isso vai depender do contexto histórico da Humanidade.
Por isso, essas Comissões da Verdade instaladas no Brasil não me são simpáticas, não me descem goela abaixo.
“A escravidão é cancro mortal que ameaça os fundamentos da nação". José Bonifácio de Andrada e Silva, e eu concordo plenamente com essa afirmação feita nos primórdios da Nação Brasileira pelo Patriarca da Independência, em época da realização da primeira Assembleia Constituinte do Brasil foi instalada em 3 de maio de 1823.
Dito isso quero comentar um ato da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, instalada na OAB de Brasília.
O relatório final “sugere que Brasil reconheça crime de escravidão, e que se faça um pedido oficial de desculpas aos negros”.
Não satisfeitos cobraram do Vaticano, do Papa Francisco, “ a possibilidade de se redimir do silêncio cúmplice, que até hoje a Santa Igreja tem ostentado em relação ao tráfico negreiro, no qual a Igreja de Roma se envolveu de corpo e alma"
Isso só pode ser obra de quem não tem o que fazer.
Isso só pode ser obra de quem quer abrir uma brecha para os afrodescendentes pedirem indenizações milionárias a Republica, como aqueles que se disseram prejudicados pelos governos militares no Brasil que vigoraram de 1964 a 1985 e foram exercidos por generais-presidentes, eleitos pelo Congresso nacional pelos então representantes do povo brasileiro escolhidos livremente nas urnas.
Isso é racismo contra os escravos que trabalharam e fizeram dessa Terra de Santa Cruz um país, uma nação, com uma civilização peculiar.
Sim racismo.
Racismo porque está ignorando um ponto fundamental da CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, que é a influência africana para sua formação.
A importância do NEGRO e de sua CULTURA MILENAR na formação de nossa Nação, de nossa cultura multirracial, de nossos hábitos, nossos costumes. 
Daí que...
Pedirmos desculpas porque se somos fruto dessa Civilização Afro-Ocidental?
Uma Civilização peculiar que não tem igual em nenhuma parte desse Mundão de meu Deus.
Apesar dos padres terem tentado boicotar sua formação de todas as maneiras possíveis.
Afinal, em nome da Santa Madre Igreja eles criaram problemas para os negros, bem como para os índios, em nome de sua fé retrógada, aproveitadora, gananciosa, impudica.
Contudo, eles contribuíram, também, para formação de nossa Civilização Afro-Ocidental, sendo responsáveis pela parte caucasiana, pela parte branca, além é claro de sua parte religiosa.
Ignorar a influência e a importância das negras na formação da Família Brasileira não é só racismo, é uma afronta, um acinte, a memória delas, as Nanãs.
E é o que esse relatório está fazendo porque as ignoram, ignoram a sua importância, pois se temos que pedir desculpas a elas, estamos as colocando na condição de uma NADA, de gente sem valor, e o que mais elas tiveram foi valor, começando pelas ‘amas de leite’.
As “ amas de leite’ influenciavam seus “ filhos de amamentação” pelo resto de sua vida e muitas delas passavam a cria-los junto com seus filhos dando a eles uma formação africana, transmitindo conceitos africanos, até religiosos, a ambos, principalmente quando eram mulheres.   
Quantas ‘sinhazinhas’ não pediram as suas negras para fazerem mandigas afim de arrumar aquele namorado?
As histórias familiares estão cheias dessas histórias secretas familiares.
E vice-versa.
Quantos senhores não apelaram para suas negras ou negros para fazerem mandigas afim de salvarem seus negócios comerciais?
As histórias familiares estão cheias dessas histórias secretas familiares.
Como a família é a base da Sociedade, e a influência negra era grande nas famílias brasileiras, mesmo depois da Lei Aurea, logo a lógica nos diz que os negros tiveram grande influência na nossa Formação como Nação, então pedir desculpas porquê? 
Quantos milhares de brasileiros nesses 483 anos de presença africana no Brasil foram a uma benzedeira?
Tomou banhos de ervas para descarrego?
Banhos de descarrego com sal grosso?
Banhos para limpeza espiritual?
Banhos para abrir caminhos?
Banhos para atrair prosperidade?
Banhos para proteção?
Banhos para obter amor?
Quem?
MILHARES DE MILHÕES, homessa...
Quantos milhares de brasileiros nesses 483 anos de presença africana no Brasil comeram comidas de origem negra, de origem africana?
Quem no Brasil não comeu:
Feijoada de feijão preto, acarajé, vatapá, caruru, mungunzá, angu, pamonha, cuscuz, a canjica, canjica, toucinho, carne-seca, farinha de mandioca, com leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, a pimenta malagueta, etc.
Quem?
MILHARES DE MILHÕES, hora essa...
Quem nunca apreciou um bom SAMBA?
Quem?
MILHARES DE MILHÕES, ora bolas...
Quem? Quem? E isso o que significa?
Significa que a cultura negra, africana, é parte de nossa Sociedade, faz parte de nossa Civilização Afro-Ocidental.
Então pedir desculpas porquê?
Não éramos nós, os brasileiros, que caçavam os negros de tribos inimigas na África.
Não éramos nós, os brasileiros, que vendíamos esses prisioneiros aos traficantes, aos negreiros, e trazíamos nos infames navios.
Não fomos nós, os brasileiros, que espalhamos os africanos nas Américas.
Não fomos nós, os brasileiros, que emitimos a Bula Dum diversas , de 18 de junho de 1452, nem tão pouco o Breve apostólico Divino amore communiti, documentos papais, ambos que autorizavam os portugueses a “ conquistar territórios não cristianizados e consignar a escravatura perpétua os sarracenos e pagãos que capturassem”, mas sim Papa Nicolau V, nascido Tommaso Parentucelli, 208º Papa e chefe da Igreja Católica Apostólica Romana.
Não fomos nós, os brasileiros, PORTANTO que provocamos o Holocausto Africano.
Nos, os brasileiros, os MILHARES DE MILHÕES que viveram, e os que hoje vivem, desde 1533 quando Pero de Góis, Capitão-Mor da Costa do Brasil, solicitou, ao Rei, a remessa de 17 negros para a sua capitania de São Tomé (Paraíba do Sul/Macaé), temos muito mais é que agradecer, dizer obrigado, a todos os africanos, e seus descendentes, que aqui aportaram, que aqui viveram, que aqui trabalharam, portanto aos NEGROS EM GERAL, por nossa Sociedade, por nossa Civilização Afro-Ocidental.
Temos que agradecer, sendo filhos de sangue, ou filhos culturais, aos NEGROS EM GERAL, por nossa Sociedade, por nossa Civilização Afro-Ocidental.
Essa é a minha verdade.
Verdade esta que pode ser até contestada.
MAIS....
Pedir desculpas?
Cometer esse ato de racismo?
EU NÃO.


Jorge Eduardo Fontes Garcia

São Paulo 2015/2016