Continuação:
A Voz do Morro:
Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba
Essa melodia de um Brasil feliz
Essa maravilha cima é de Zé Kéti, nome artístico de José
Flores de Jesus, nascido no Rio de Janeiro, no Bairro de Inhaúma, em 6 de
outubro de 192.
Na mesma cidade morreu de falência múltipla dos órgãos
aos 78 anos em 14 de novembro de 1999.
A Voz do Morro, também, foi o nome de um conjunto formado
na década de 1960, por Zé Kéti, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson
Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé Cruz e Oscar Bigode.
Esse primor narra suscintamente
a História do Samba que teve início na Cidade Nova.
O que era a Cidade Nova?
Simplificando as informações:
“ O nome "Cidade
Nova" tem registros que remontam ao período do reinado de D. João VI. Até
o início do século XIX, a região era um alagadiço que servia de rota de
passagem entre o Centro e as zonas rurais da Tijuca e São Cristóvão. Com os
aterros feitos com a intenção de melhorar esta travessia, surgiu o projeto de
impulsionar o crescimento da cidade para a área, vindo daí o nome”.
Ou
“ Em tempos
passados, a região ou bairro da Cidade Nova era conhecida como Mangue, por ter
sido um alagadiço pantanoso com vegetação de manguezal. A região também ficou
conhecida como "Aterrado", devido à um caminho feito sobre aterro,
ainda no tempo de Dom João VI para ligar o centro da cidade ao Paço Real de São
Cristóvão, atual Museu da Quinta da Boa Vista. A região da atual Cidade é área
compreendida entre os antigos Manguezais da Gamboa Grande indo até o extinto
Saco de São Diogo ou Saco de São Cristóvão. Para se situar, o Saco de São
Cristóvão era um grande braço de mar, cujas aguas chegavam ante o atual
encontro das Avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas.
Nesta região, no início do Século 19,
uma parte da mesma foi aterrada, dando surgimento ao chamado "Campo de
Marte", utilizado para manobras militares e exercícios de tiros de tropas
da Coroa.
A região ficou conhecida como Aterrado
no Século 19 devido ao "Caminho do Aterrado ou Caminho das
Lanternas", construído no tempo de D. João VI, para trafego de carruagens
da família Real ruma ao Palácio de São Cristóvão.
Este caminho também aberto sobre aterro,
viria a ser a Rua Senador Euzébio (depois Rua São Pedro da Cidade Nova), que
passava pela "Ponte dos Marinheiros", ponte esta que existia onde
hoje existe um cruzamento de grandes viadutos na junção das Avenidas
Presidentes Vargas e Francisco Bicalho.
Veja algumas cenas que mostram a
evolução urbana e os aterros das áreas adjacentes ao antigo Saco de São
Cristóvão e Manguezal de São Diogo. Sobre o manguezal hoje situa-se a Cidade
Nova.
Na metade do Século 19, a área sofreu
grande impulso, quando o Barão de Mauá construiu e instalou na Senador Eusébio
(depois Rua São Pedro da Cidade Nova), em 1851, o antigo Gasômetro ou Fábrica
de Gás. O projeto do gasômetro era de um engenheiro inglês chamado Guilherme
Bragge.
Em 1857 o mesmo Barão de Mauá, também
construiu sob regime de administração o Canal do Mangue, drenando e saneando as
águas que se espalhavam pelo local.
Este canal foi construído substituindo
uma vala que existia no local, entre as Ruas Visconde de Itaúna e Senador
Eusébio.
A Rua São Pedro da Cidade Nova (antiga
Senador Eusébio) deixou de existir com a abertura da Avenida Presidente Vargas
na década de 1940, Século 20, quando esta rua e a Visconde de Itabuna, uma
outra rua paralela que ficava do outro lado do Canal do Mangue se fundiram e
passaram a se chamar Av. Presidente Vargas.
Entretanto, a calçada da Av. Presidente
Vargas do lado do Gasômetro, seria a antiga calçada da extinta Senador Eusébio
ou Rua São Pedro da Cidade Nova.
Até o ano de 1895, ainda existiam pântanos
na área onde hoje existe a Estação do Metrô do Estácio, área em frente ao
Centro de Convenções Sul América, Prédios Prefeitura e indo até o edifício do
Tele Porto na Rua Visconde de Duprat. Foi nesta época que estas áreas foram
aterradas com terras que vieram do desmonte do Morro do Senado. Em função
destes aterros, surgiram as ruas Pinto de Azevedo, Pereira Franco, Machado
Coelho (antiga Rua dos Bondes), Visconde de Duprat entre outras.
Na década de 1940 inúmeras demolições
ocorreram na área para a abertura da grandiosa e ampla Av. Presidente Vargas.
Se veio o chamado "progresso" para a cidade, a avenida transformou a
Cidade Nova em um bairro de passagem que entrou em total decadência passando a
ser ocupado por cortiços e zonas baixo meretrício”.
Outro:
“ A Cidade Nova passou a ser
caracteristicamente um bairro proletário, de pequenas casas operárias. Nele,
localizava-se a antiga praça 11 de Julho, que seria destruída com as obras de
abertura da Avenida Presidente Vargas. Entretanto, parte da Cidade Nova manteve
a denominação de Praça Onze, em referência ao antigo logradouro, apesar disso,
curiosamente, a Praça Onze não faz parte do bairro da Cidade Nova, fazendo
parte do bairro do Centro, pois fica depois do Viaduto 31 de Março, divisa
oficial dos dois bairros”.
“O "Largo do Rocio
Pequeno" tornou-se a Praça 11 de junho, data da Batalha do Riachuelo, o Combate
Naval do Riachuelo culminou com a derrota dos paraguaios, representando o fim
da primeira fase da guerra, onde se distinguiu Francisco Manuel Barroso da
Silva, Barão do Amazonas - em homenagem à nau capitânia que comandava na
batalha do Riachuelo- o Almirante
Barroso, era delimitada pelas ruas de
Santana (a leste), Marquês de Pombal (a oeste), Senador Euzébio (ao norte) e
Visconde de Itaúna (ao sul)”.
“ As etnias mais populares no
entorno da Praça Onze eram os negros (na maioria oriundos da Bahia), seguidos
pelos judeus de várias procedências, tanto que por ali morou e trabalhou Adolpho
Bloch (Avram Yossievitch Bloch) junto com a família, que em 1923 comprou uma
pequena impressora manual e começou rodando folhas numeradas para o ilegal Jogo
do Bicho”.
“ Com a Abolição, os libertos
se instalaram nas precárias "casas de cômodos" tendo como centro público
das atividades a Praça 11 de Junho”.
Foi por causa da superlotação das
casas ao redor da Praça 11, os soldados que participaram da Guerra de Canudos subiram
as encostas do Morro da Favela, e lá construíram seus casebres, e de onde
surgiu a terminologia “ Favela”.
Portanto, a Praça 11 era “ o
reduto por excelência dos negros cariocas”.
E FOI ONDE NASCEU
O SAMBA.
Na casa da Mãe de Santo e quituteira
baiana dona Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata.
Tia Ciata, filha de Oxum,
nasceu na terra dos Velosos (Maria Betânia e Caetano), ou seja, em Santo Amaro
da Purificação em 1854, sendo iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê
Obitikô, nome civil Rodolfo Martins de Andrade, um babalawo africano.
“ Babalawo (em yoruba: bàbáláwo pronúncia
babalauo) é o nome dado aos sacerdotes exclusivos de Orunmilá-Ifá do Culto de
Ifá na religião yoruba, das culturas Jeje e Nagô. Estes não necessariamente
entram em transe, sua função principal é a iniciação de outros babalawos, a
preservação do segredo e transmissão do conhecimento do Culto de Ifá para os
iniciados”.
Tia Ciata mudou-se para o Rio de
Janeiro com 22 anos, em 1876, por causa da perseguição e fortíssima repressão policial
a sua crença, e com outras Irmãs de Santo foi morar na “ região da Cidade Nova,
do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores”.
Embuchada por Noberto da Rocha
Guimarães um companheiro que não deu certo, tiveram uma filha de nome Isabel.
Para sustentar a Isabel, nome
da Princesa que assinou a Lei Aurea, a nobre Tia Ciata, vestida com as vestes
tradicionais das baianas, foi trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro,
local onde seu “tabuleiro ficou famoso por ser farto, repleto de quitutes, de
bolos e manjares, tanto que era frequentado por transeuntes de todas as classes
sociais”.
No Rio se tornou “ A Mãe Pequena,
a Iyakekerê, a segunda pessoa mais importante em um terreiro de candomblé, que
na ausência da ialorixá ou do babalorixá, assume o comando do terreiro da Casa
do babalorixá João Alabá, a primeira casa de candomblé no Distrito Federal, um
terreiro de Candomblé na rua Barão de São Félix, na Gamboa”.
Boa pessoa, encontrou em João Batista
da Silva, um negro bem-sucedido, o companheiro de sua vida, tanto que tiveram 14
filhos, e com quem foi morar na Praça 11.
Ali conquistou uma boa reputação,
tanto que ela se conta essa História:
“ Normalmente, a polícia
perseguia os sambistas, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi
justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que
proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da
República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida
na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao
Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela,
dizendo:
"Ele é um homem, um
senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:
"Quem precisa de caridade
que venha cá."
Ela então incorporou um Orixá
que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau
Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três
dias seguidos.
O Presidente ficou bom e em
troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não
precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um
trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa",
explicou ela.
Fim da História.
“ Em 1910, morreu o respeitado
João Batista da Silva, mas Tia Ciata continuou a mesma recebendo em sua casa,
organizando os famosos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da
melhor qualidade e claro seus quitutes”. “Tia Ciata cuidava para que a comida
estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse”.
Mestra no Samba do
partido-alto, portanto uma das conhecedoras dos segredos do samba-dança mais
antigo, tanto que foi reconhecida como grande ‘partideira’.
Em sua casa na Praça 11 se
reuniram os Três Grandes, Donga, Sinhô e João da Baiana, e com isso sua casa “é
uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro”.
A “ Deixa Falar” é considerada
a primeira escola de samba do Brasil, nascida no bairro do Estácio, no Rio de
Janeiro, que para muitos era só um Bloco
de Carnaval, depois dele ou dela vieram O Conjunto Oswaldo Cruz, do Bairro
Osvaldo Cruz, hoje o mui querido Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, e o
Bloco Estação Primeira, que hoje é a tradicional Estação Primeira de Mangueira
( Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira), e todos
eles “nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, consideravam que era
"obrigatório" passar diante da Casa de Tia Ciata, onde foi criado
"Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por
Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Bahiano, nascido também em Santo
Amaro da Purificação.”
“Com 70 anos completos, Hilária
Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, que no seu atestado de óbito,
está como Hilária Pereira de Almeida, e numa petição para sócio do Clube
Municipal encaminhada por seu filho João Paulo em 1949, este escreve o nome da
mãe como Hilária Pereira Ernesto da Silva. Dúvidas documentais sem maior
importância, morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do
samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata”.
“Tia Ciata era uma mulher
muito respeitada”.
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