quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Teatro de Revista, o Teatro Rebolado na masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 6 - autor: Jorge Eduardo Fontes Garcia


Uma das primeiras montagens de Walter Pinto - Teatro Recreio -  Rio de Janeiro, anos 40.

A primeira peça de revista que assisti foi no Teatro Carlos Gomes na Praça Tiradentes, que é um dos teatros mais tradicionais do país, que pela primeira vez foi inaugurado em 1872, depois sofreu três grandes incêndios.
Não me lembro do nome da peça, mas me lembro de uma cena com um candelabro, e uma piada, que vou transcrever, se minha memória permitir:
“ Lá atrás daquela serra tem um cume, quanto mais o sol bate, quanto mais o cume arde”.
Não esqueci. 
Mais, esqueci quem foi o artista que contou.
Acredito que essa piada foi inspirada no “Poema do cume!!”, de autor anônimo, que está em  https://youtu.be/cOO9TzFqPzk ,  e é o seguinte:
No alto daquele cume
Plantei uma roseira
O vento no cume bate
A rosa no cume cheira.
Quando cai a chuva fina
Salpicos no cume caem
Formigas no cume entram
Abelhas do cume saem.
Quanto cai a chuva grossa
A água do cume desce
O barro do cume escorre
O mato no cume cresce.
Quando cessa a chuva
No cume volta a alegria
Pois torna a brilhar de novo
O sol que no cume ardia!



No sentido horário, Machado acompanhado de Irma Alvarez e Norma Tamar; ao conhecer o Xá da Pérsia e a Imperatriz Farah Diba, durante um espetáculo; e com seu porte todo elegante.
Créditos: Reprodução/Arquivo pessoal/istockphoto.com

 Walter Pinto 

Na minha mocidade haviam dois grandes empresários do gênero que eram Walter Pinto e Carlos Machado, na casa desse último eu fui, um belo duplex no último andar do Edifício Bocaina, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 259   - Copacabana - Rio de Janeiro, RJ.
Eram notáveis os figurinos de Gisela Machado, esposa de Carlos Machado, uma das poucas mulheres realmente elegantes que vi em minha vida, marcaram toda uma Época Aurea do Rio de Janeiro.
Elegantíssima, filha de família tradicional, prima da escritora Rachel de Queiroz e bisneta de Chiquinha Gonzaga, Gisela Maria Mancebo de Vasconcellos nunca imaginaria que um dia iria assinar Machado em seu sobrenome. O bom gosto, o refinamento e sofisticação dela foram fundamentais para a consagração de Carlos Machado no show business. Eles se conheceram em Petrópolis, no verão de 1940, e em 20 de julho de 1942 se casaram no Mosteiro São Bento.
Gisela sempre fechou um olho, às vezes dois, para as escapadinhas do marido, que, como bom gaúcho, gabava-se de suas aventuras. Ela, mesmo fazendo os figurinos dos shows, raramente era vista ao lado do marido. Foi durante um desfile de compras, nas lojas de tecidos Casas Canadá, que Gisela convidou uma das manequins da maison para ser vedete dos shows do marido. Era Norma Bengell, que mais tarde faria carreira internacional. Fonte: http://glamurama.uol.com.br/o-rei-dos-anos-dourados-historias-e-o-glamour-de-carlos-machado/


Machado com os filhos, José Carlos e Djenane, e a mulher, Gisela.
Créditos: Arquivo pessoal/Reprodução


Mais, nas “ companhias teatrais de Teatro rebolado” de Walter Pinto e Carlos Machado, foi assim que passamos a chamar o Teatro de Revista no Brasil, nas peças que montavam, atuaram atrizes – chamadas de vedete- como:
Íris Maria Brüzzi de Medeiros - Íris Bruzzi – que foi casada com Walter Pinto; A belíssima e estonteante com seus cabelos cor de fogo Mara Rúbia (Osmarina Lameira Colares Cintra, nascida na Ilha de Marajó);
Norma Bengell (Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães d'Áurea Bengell);
Virgínia Lane (Virgínia Giaccone);
A deslumbrante, meu sonho de moço, Carmem Verônica (a pernambucana Carmelita Varella Alliz Sicart);
A paulista Esther Tarcitano;
Dorinha Duval (a paulista Dora Teixeira, que foi casada com e Daniel Filho, da também atriz Carla Daniel);
Anilza Leoni (a catarinense Anilza Pinho de Carvalho, considerada “ uma das maiores vedetes do teatro rebolado");
A fabulosa Rose Rondelli ( Rosermy Rondelli que foi casada com Chico Anysio, mãe de Nizo Neto, nome artístico de Francisco Anízio de Oliveira Paula Neto);  Maria Pompeu;
Irma Álvarez (a argentina Irma Rufina Álvarez);
Angelita Martinez (que se dizia que era amante de Jango),
Aracy Cortes- ver abaixo (a carioca Zilda de Carvalho Espíndola, que era cantora e vedete. Foi quem cantou pela primeira vez “ Aquarela do Brasil”, um samba-exaltação de Ari Barroso);  
Berta Loran (a judia Basza Ajs nascida em Varsóvia, Polônia, em 23 de março de 1926, mas que “ em 1937, aos 11 anos, mudou-se com a família para o Brasil, instalando-se num sobrado na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro)
Consuelo Leandro (paulista de Lorena Maria Consuelo da Costa Ortiz Nogueira que casou com Agildo Ribeiro),
Elizabeth Gasper (alemã de nascimento),
Elvira Pagã (Elvira Olivieri Cozzolino, casou com Theodoro Eduardo Duvivier Filho, o famoso playboy conhecido internacionalmente como Eduardinho Duvivier),
Ilka Soares (Ilka Hack Soares, que foi casada com Anselmo Duarte e Walter Clark, que “em junho de 1984 foi a brasileira com mais idade (52 anos) a posar nua para a revista Playboy, marca superada em abril de 2003 por Helô Pinheiro, com 57 anos),
Luz Del Fuego (Dora Vivacqua da terra do Rei Roberto Carlos, ou seja, Cachoeiro de Itapemirim. Irmã do senador Attilio Vivacqua, que em “ Em 1944 inicia suas apresentações como "Luz Divina", no picadeiro do circo "Pavilhão Azul", posteriormente por sugestão do e palhaço Cascudo, mudaria o nome para Luz del Fuego, nome de um batom argentino recém-lançado no mercado. Adepta da alimentação vegetariana e do nudismo, não fumava, nem ingeria bebidas alcoólicas e, através de uma concessão da Marinha, obteve licença para viver na ilha Tapuama de Dentro, que foi por ela rebatizada como "Ilha do Sol" e onde fundou o primeiro clube naturista do Brasil, o "Clube Naturalista Brasileiro");
Salomé Parísio (a pernambucana de Bonito Dulce de Jesus de Oliveira)
Marli Marley (a mato-grossense Marly Marley de Toledo, que casou com o humorista Ary Toledo).
Nélia Paula, de Niterói, mas que faleceu vítima de ataque cardíaco aos 72 anos de idade no Rio de Janeiro;
Renata Fronzi (a argentina Renata Mirra Ana Maria Fronzi, que foi casada com o celebre radialista da Rádio Nacional César Ladeira e mãe de César Ladeira Filho e do músico Renato Ladeira),
Sonia Mamede (carioca que casou com Augusto César Vanucci),  
Wilza Carla de Niterói, intérprete de papéis sensuais, posteriormente, aproveitando o fato de que havia engordado bastante, celebrizou-se nos filmes do gênero "pornochanchada". Seu grande momento foi como Dona Redonda na novela Saramandaia, da Rede Globo. Morreu necessitada em São Paulo)
Entre outras.
 Dercy Gonçalves.

Dolores Gonçalves Costa, nascida em Santa Maria Madalena, 23 de junho de 1907, ou seja, a impagável Dercy Gonçalves, cujas peças a mãe de minha mãe, Dona Regina Alves Barreto de Almeida, ia com meu pai. Dercy faleceu em 19 de julho de 2008, com 101 anos de idade, no Rio de Janeiro, mas encontra-se sepultada em sua terra natal em Santa Maria Madalena em uma pirâmide de vidro e mármore.
Tumulo de Dercy

Os atores como Oscarito, Grande Otelo, Blecaute (também como cantor), Ankito, Costinha, José Vasconcellos, entre outros.
Vários compositores atuantes na época, como Freire Júnior, Eduardo Souto, Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Lamartine Babo, Hekel Tavares, Ary Barroso.
 Caymmi, Haroldo Barbosa, Almirante, Braguinha, etc...
Chamo atenção que “ Walter Pinto trouxe para a artista Ivaná, primeiro transexual de grande sucesso nos espetáculos franceses”.
No https://youtu.be/CX3BedMpkRY está escrito “Ivaná (Ivan Monteiro Damião), a primeira travesti do teatro de revista brasileiro no filme Mulher de Verdade, de Alberto Cavalcanti. Para saber mais sobre Ivaná, leia sua biografia no livro Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico entre o Brasil e Portugal, de Diego Nunes. Curta a página, o livro pode ser adquirido por lá”.



Mais o que era esse Teatro de Revista, que virou Teatro Rebolado?
O teatro de revista tornou-se um gênero popular no Brasil a partir do final do século XIX.
Entre os principais escritores de revista estava Arthur Azevedo. Em uma de suas revistas, intitulada A Fantasia (1896), ele apresenta a seguinte definição para o gênero:
"Pimenta sim, muita pimenta
E quatro, ou cinco, ou seis lundus,
Chalaças velhas, bolorentas,
Pernas à mostra e seios nus"....



No Dicionário Cravo Albin da Musica Popular Brasileira, verbete Teatro de Revista - Dados Artísticos:
Gênero de teatro musicado surgido no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.
Foi um grande lançador de compositores e músicos populares, numa época em que o principal mercado de trabalho era o teatro, os cabarés e os cafés dançantes.
O gênero firmou-se como consequência de uma necessária opção de lazer para as camadas da crescente classe média urbana do Rio de Janeiro.
Tinha como característica passar em revista os principais acontecimentos do ano, pondo em cena os fatos, revividos com humor e com o recurso da dança e da música. Segundo J. R.Tinhorão, o ambiente para o aparecimento desse gênero de teatro começou a ser preparado desde 1859, pelo gênero alegre do Alcázar Lyrique, do francês Joseph Arnaud.
Nesse mesmo ano, foi encenada "As surpresas do sr. José da Piedade", de Justino de Figueiredo Novais, considerada a primeira revista nacional, encenada sem sucesso no Teatro Ginástico.
A partir da década de 1880, com o aumento da classe média e com a crescente intensificação dos serviços urbanos, o teatro de revista consolidou-se.
Nessa época, Artur Azevedo já fazia sucesso com suas revistas, que contribuiriam para torná-lo o grande nome do teatro musical brasileiro.
No início, o novo gênero sofreu a influência das revistas europeias.
Em 1887, com a apresentação da revista "La gran via", encenada por uma companhia espanhola, o teatro musicado brasileiro sofreu uma transformação com a descoberta de números musicais cantados por coristas em movimento. As revistas brasileiras lançaram, a partir dessa época, um estilo que valorizava a canção popular, que acabaria tendo o teatro como seu importante divulgador. Esse fato foi o ponto de partida para usar o carnaval como tema nas revistas. Um ano depois do sucesso de "La gran via", Oscar Pederneiras estreou, no Teatro Recreio, uma revista com o nome "O boulevard da imprensa", na qual estariam representadas as três maiores sociedades carnavalescas do Rio de Janeiro: os Democráticos, os Tenentes do Diabo e os Fenianos. Cantadas nos palcos dos teatros, as músicas muitas vezes caíam na boca do povo, transformando-se em sucesso.
Foi o caso do tango "Araúna" ou "Xô, Araúna", lançado em 1885 na revista "Cocota", de Artur Azevedo.
Era um lundu amaxixado, interpretado na peça por Filipe de Lima, que foi tão cantado na época, que chegou a ser sucesso nacional (foi ouvido na voz de uma vendedora de balas da capital do Rio Grande do Sul, pelo gaúcho Aquiles Porto Alegre).
Outro sucesso foi o tango "As laranjas da Sabina", inspirado em caso policial, envolvendo uma ex- escrava gorda, vendedora de laranjas, que foi obrigada a retirar seu tabuleiro de laranjas por causa de uma manifestação de caráter republicano, promovida pelos estudantes de Medicina que costumavam frequentar sua barraca.
O caso rendeu até uma passeata.
O episódio ficou famoso porque os estudantes chegaram a jogar as laranjas da Sabina no exato momento em que a carruagem da princesa imperial regente passava em frente à barraca, quase sendo atingida pelos manifestantes.
Esse fato inspirou os irmãos Artur e Aluísio Azevedo a incluírem na revista "República" uma cena onde a atriz Ana Manarezzi, caracterizada como a baiana Sabina, canta o famoso tango.
Esse fato introduziu a figura da baiana como personagem reincidente nos palcos brasileiros.
Outro sucesso saído dos palcos do teatro musicado foi o tango "Gaúcho", de Chiquinha Gonzaga, uma das grandes compositoras do teatro de costumes brasileiro. Tocado e cantado por Machado Careca pela primeira vez na revista "Zizinha maxixe", de 1897, tornou-se um dos maiores sucessos da música popular brasileira.
Conhecido com o nome de "Corta-jaca", chegou a ser interpretado ao violão pela primeira-dama Nair de Teffé, no Palácio do Catete, em episódio que escandalizou a elite política e social de então.
Dentre os grandes maestros compositores que atuaram no teatro de revistas, podemos citar, além de Chiquinha Gonzaga, Nicolino Milano, Paulino Sacramento, Bento Moçurunga, Antônio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Adalberto Gomes de Carvalho, Costa Júnior, Bernardo Vivas, Júlio Cristóbal, Assis Pacheco, José Nunes, Luz Júnior, Domingos Roque, Roberto Soriano. Além deles, podemos citar os grandes cantores: Xisto Bahia, o cômico Vasques, Filipe de Lima, Ana Manarezzi, Maria Lino e tantos outros.
Posteriormente, veio uma nova geração de compositores e cantores que acabou sendo absorvida pelo rádio e pela indústria fonográfica: Freire Júnior, José Francisco de Freitas, Baiano, Araci Cortes, Pepa Delgado, Pepa Ruiz, Ismênia Mateus, Eduardo Souto, Sinhô, Henrique Vogeler, Hekel Tavares, Sebastião Cirino, Pixinguinha, Lamartine Babo, Ary Barroso, Augusto Vasseur, Vicente Celestino e tantos outros. Nossos grandes revistólogos foram Artur Azevedo, Oscar Pederneiras, Augusto Fábregas, Freire Júnior, Luís Peixoto, Luís Iglesias, Carlos Bittencourt, Cardoso de Meneses, Bastos Tigre, Marques Porto, Irmãos Quintiliano e outros.
Dentre os grandes sucessos vindos do teatro musicado, podemos citar, além do "Corta-jaca", de Chiquinha Gonzaga, "Vem cá, mulata", de Costa Júnior; o tango "Forrobodó", de Chiquinha Gonzaga; "O pé de anjo" e "Fala, meu louro", de Sinhô; "Ai, Ioiô", de Henrique Vogeler e Luís Peixoto; "Joujoux e balangandãs", de Lamartine Babo, e "No tabuleiro da baiana", de Ary Barroso, entre dezenas de outros títulos.  
Fim do verbete do DCAMPB.


 Surgido no Rio de Janeiro em 1859, com a revista de Justino de Fiqueiredo Novais intitulada As surpresas do Sr. José da Piedade, relacionada ao ano de 1858 em dois atos e quatro quadros. Essa revista foi estreada no Teatro Ginásio, dia 15 de janeiro de 1859. Esse novo gênero de teatro com música firmou-se definitivamente a partir da década de 1880, com o aparecimento do magnifico Artur de Azevedo que se tornou o maior nome do teatro musicado brasileiro em todos os tempos.
A partir da década de 1920, o teatro de revista sofreu a influência do cinema e seu tempo foi diminuído e passaram a concorrer, também, com os mágicos o que conduziu o gênero para o show, cuja tendência aumentou na década de 1930 com os espetáculos internacionais dos cassinos. Em 1935, foi encenada no Teatro Recreio, a revista de Freire Junior, intitulada Bailarina do cassino. Dessa forma a importância do teatro musicado passou para os shows de boate ou de teatros com o objetivo de atender a um público mais exigente.
Naqueles momentos, aportam no Rio de Janeiro duas companhias européias que iriam ditar a mudança completa do comportamento do gênero, tanto no palco como fora dele.
Salvyano Cavalcanti de Paiva conta, no livro Viva o rebolado, como foi a reação nacional à presença da companhia francesa Ba-Ta-Clan: “Despertaram interesse, surpresa e sensação a saúde e a marcação das coristas, de corpo escultural, a música viva e funcional, os cenários magnificentes, a movimentação de luzes e cores que ampliava os efeitos estéticos e cenográficos e, em especial, o apelo erótico alcançado mediante a mostra generosa do nu feminino – que a Censura, no primeiro momento, não ousou proibir para não parecer matuta.
Isto chocou mais aos empresários que ao público; verificaram, por fim, o acanhado das suas realizações. A consequência mais imediata foi a supressão das meias e das grosseiras roupas de malha das coristas. E tentativas de melhorar, enriquecer, as apoteoses: isto representou mudança radical na cenografia e nos figurinos e a introdução de uma coreografia consciente nos números de dança coletiva, até então executados na base do improviso”.
As observações se prestam também à companhia madrilense Velasco, que junto com a francesa trouxeram a feérie para o público carioca.
Foi tal o impacto das mulheres européias no país que, em São Paulo, um jovem tentou suicidar-se, saltando do viaduto do Chá, por amor a uma das francesinhas, e Juca Paranhos, futuro barão do Rio Branco, casou-se com a corista belga Marie Stevens.
A primeira revista brasileira não chegou a ficar em cartaz uma semana, por falta de público e proibição da censura, após a estreia.
Denominava-se “As surpresas do Sr. José da Piedade”, e foi encenado no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro, em 1859.
A segunda tentativa foi em 1875, com a A Revista do Ano de 1875, escrita por Joaquim Serra, mas que acabou fracassando por excesso de sátiras políticas. Ainda nesse ano, do mesmo Serra, Rei morto, rei posto dá sinais de que público começava a aceitar o novo tipo de teatro.
O grande sucesso brasileiro apareceria em 1883, com o O Mandarim, espetáculo de Artur Azevedo e Moreira Sampaio, com a participação do cançonetista e compositor Xisto Bahia, considerado um dos maiores artistas populares de sua época e, segundo o próprio Artur Azevedo, “o ator mais nacional que tivemos”. Como revista inteiramente brasileira, a primeira carnavalesca a ser montada intitulava-se O Boulevard da Imprensa de Oscar Pederneiras.
Portugal nos manda, em 1892, suas cançonetistas da revista Tintim por tintim, com bastante êxito.
A revista como balanço do ano desaparece no início do século. É o momento em que a música começa a tomar espaço maior no palco e o Carnaval a ser um dos seus principais motes, envolvendo-se o teatro de revista com as grandes sociedades carnavalescas, como os clubes dos Fenianos, Tenentes do Diabo, dos Democráticos e outros.

Na revista O Maxixe, em 1906, é lançado Vem cá mulata (Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre), no mesmo ritmo do título.
O teatro de revista como lançador de músicas que o povo adotaria de imediato. O público crescente deixava-se seduzir por um tipo de teatro que alcançava uma estrutura tipicamente brasileira, mais que isso, carioca, e a revista assumia agora o papel que cumpriria nos anos seguintes, de lançadora de sucessos da música popular brasileira.

Cidade essencialmente musical, mesmo assim, o Rio de Janeiro só veria o prestígio do teatro de revista consolidado, nos últimos anos da década de 10 e nos primeiros da de 20.
Assumida inteiramente a função de vitrine, abriria os palcos para compositores populares, que os levariam à celebridade, transformaria vedetes-cantoras nas mulheres mais desejadas e cobiçadas do país.
Nos anos 20, o nome mais famoso a ter suas composições levadas a cenas foi José Barbosa da Silva, o Sinhô, que se autointitulada o Rei do Samba.
Chegou à proeza – em duas ocasiões – de ter o mesmo samba cantado em duas revistas diferentes, encenadas simultaneamente.
Em 1920, estreia a revista Papagaio Louro, com mais um samba de Sinhô, “Fala meu louro”, e no Teatro São José, “Quem é bom já nasce feito”, aproveitando o nome de outro samba dele.
Luiz Peixoto chega de Paris e encena Meia noite e trinta, colocando no palco tudo o que aprendera lá. É a pá de cal no enterro da velha revista, que agora tem gosto refinado em cenários, guarda-roupa, iluminação, textos, e oferece muito melhores condições aos seus lançamentos musicais.

Adendo meu: Luís Carlos Peixoto de Castro Por 45 anos foi um dos nomes mais importantes do teatro de revista do Brasil, tendo produzido mais de cem peças do gênero.

Francisco Alves é uma das atrações, ao lado de sua mulher Nair. Além de cantar, dança desenvolto com ela. Ainda em 1923, Chico Alves participaria, junto com da iniciante Araci Cortes, da revista Sinhô de ópio, na qual interpretava um almofadinha cantor. A partir daí sua presença torna-se mais rara até por volta de 1930, quando abandona o teatro e passa a se interessar mais por gravações e programas radiofônicos. Durante 15 anos, o teatro de revista foi a sua vitrine.

Adendo meu: Francisco Alves, o Rei da Voz.
Francisco de Morais Alves (Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1898 — Pindamonhangaba, 27 de setembro de 1952) foi um dos mais populares cantores do Brasil. Filho de portugueses, nasceu na Região Central do Rio de Janeiro, mais precisamente à Rua Conselheiro Saraiva.
Seu pai era dono de um botequim. Começou a cantar em 1918, nas companhias de teatro de João de Deus e Martins Chaves, e após, na companhia de Teatro São José, pertencente a José Segreto.
De 1927 até sua morte em 1952 nunca parou de gravar, daí se explicam os seus 524 discos. Ao contrário do que muitos pensam, ele não foi o primeiro a fazer um disco pelo processo elétrico no Brasil. Francisco Alves começou sua carreira em 1918 no teatro. No ano seguinte, a convite de Sinhô, gravou 2 discos em uma gravadora recém-aberta pelo marido de Chiquinha Gonzaga, a Popular. As três músicas gravadas nesses discos - Alivia estes olhos, Papagaio louro e O pé de anjo - foram destinadas ao carnaval de 1920, sendo O pé de anjo a que obteve maior êxito ficando então como o primeiro sucesso de sua carreira.
Se dedicou por alguns anos (1920-1924) apenas no teatro até que em 1924 grava mais dois discos, estes na Casa Edison de Fred Figner.
Morreu carbonizado por ocasião de uma colisão entre seu automóvel e um caminhão, que imprudentemente entrou na contramão, na Via Dutra, em Pindamonhangaba, na divisa com Taubaté, estado de São Paulo, quando voltava ao Rio de Janeiro. Foi enterrado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, cuja cripta atrai até hoje diversos visitantes e fãs.
Seu epitáfio foi escrito pelo jornalista David Nasser:
"Tu, só tu, madeira fria, sentirás toda agonia do silêncio do cantor".





Considerada uma das maiores estrelas do teatro de revista em todos os tempos, a paulista Margarida Max ( primeira personagem a esquerda)  formou, com Augusto Aníbal e João Lins, o trio principal de atrações da revista 'Onde está o Gato". De autoria de Geysa Bôscoli e Luiz Iglésias foi montada em 1929, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro.

Um êxito estrondoso marcou o aparecimento, como estrela, de Margarida Max. A cinco de maio de 1924, estreou no Teatro Recreio, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, a revista À La Garçonne, que modificaria costumes no país. Depois de trezentas representações, excursionou pelo Brasil, lançando a moda dos cabelos curtos para mulheres, “a lá garçonne” ou “a la homme”, tal como usava Margarida. Bonita, vistosa, talentosa e jovem, com enorme força interior, que faria dela a maior das vedetes do gênero. Iniciava ali uma carreira que acabaria por desbancar a estrelíssima Otília Amorim, vencendo as concorrências de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti, Zaíra Cavalcanti e da própria Araci Cortes, que ao final seria sua sucessora, sem contudo, alcançar seu status de grande dama do teatro de revista.
Até a chegada dos anos 40, o teatro de revista manteve sua missão de lançador da música brasileira.
Em 1939, na revista Camisa amarela, no Teatro Recreio, Moreira da Silva ainda encontra espaço para popularizar o samba de breque.
Daí para frente, mudaria a filosofia, entrariam as vedetes estrangeiras, reinariam as plumas e os paetês, o texto ganharia o espaço maior e o rádio passaria a ser o grande divulgador da música do povo. Grifo meu.
Dizem todos: / Tem uma graça feiticeira, / Só porque aqui nasci / Nesta terra brasileira / Com meu cheiro de canela / Minha cor de sapoti, / Dizem todos: / Lá vem ela! / O demônio da Araci!
O samba Graça de Araci, de Ary Barroso, na revista Não adianta chorar, encenada em agosto de 1929, no Teatro Recreio do Rio de Janeiro, retratava musicalmente a mais polêmica, musical e importante vedete que o teatro de revista brasileiro teve em toda a sua história.
Zilda de Carvalho Espíndola começou a escalada para a fama no teatro de revista brasileiro, ao integrar o elenco de Sonho de Ópio, estreada em novembro de 1923, no Teatro São José. A figura de mulher bem brasileira, a morenice tentadora e petulante, somadas à boa voz, segura interpretação e presença dominante em cena, logo fizeram dela atriz disputada pelos empresários para as montagens de revistas subsequentes.
Aliás, disputada foi a palavra que Aracy Cortes, nome artístico adotado por Zilda, mais ouviu em toda a sua vida. Disputava-se Aracy atriz, Aracy mulher e, principalmente, Aracy cantora. Em muito pouco tempo, a fama de intérprete afinada, maliciosa, de excelente estampa, agradando plenamente ao público, fazia com que todos os compositores a procurassem para ver suas músicas incluídas nas revistas por ela estreladas.
A princípio, Aracy era obrigada a cantar as músicas apontadas pelo repertório original dos espetáculos, mas sua força cresceu tanto que passou a impor composições e compositores de seu agrado. De tal forma que até mesmo algumas revistas acabavam por serem batizadas com nomes de suas músicas favoritas.
No início da carreira, houve, entre ela e o compositor Sinhô, como que uma troca de favores. Era ele quem tinha fama, enquanto ela era principiante. Mas depois de ter aprendido muito de interpretação com o maestro Paulino Sacramento, de ser dirigida e orientada por Luís Peixoto, Aracy começou a se ombrear com o compositor e, quando cantou dele, em 1929, o samba Jura, estava efetivamente consagrada. Todas as noites bisava e trisava, na revista Microlândia, de Marques Porto, Luís Peixoto e Alfredo de Carvalho, no Teatro Fênix, de início, e posteriormente no Palace-Théâtre. Interessava, então, a Sinhô que a força de Aracy fosse usada no lançamento de suas músicas

 Aracy Cortes

Mulher muito à frente de seu tempo, Aracy Cortes desde sempre desafiava preconceitos. Escorada na beleza física e na graça com que se apresentava nos palcos do teatro de revista, construiu carreira que lhe permitia todas as ousadias. Como a posar praticamente nua, "vestida" apenas com um violão, foto de 1924, resultando em um dos seus maiores sucessos, a canção "Gemer num violão", que ela interpretava de forma desabusada, sempre na certeza de ser chamada de volta ao palco, três ou quatro vezes por noite. Até encerrar em definitivo a carreira, no musical "Rosa de ouro", que a conduziu ao palco nos anos 60, manteve a pose e o charme de grande estrela.
Força que ficou patente em outro clássico absoluto da música popular brasileira, tido pelos pesquisadores como o primeiro samba-canção que se conhece. Linda flor, de Henrique Vogeler, fora lançado, com letra de Cândido Costa, em uma comédia musicada de Freire Júnior, chamada A verdade ao meio-dia, em agosto de 1928.
Cantada por Dulce de Almeida, passou despercebida.
Mais tarde, ao montar a revista Miss Brasil (no Teatro Recreio, em dezembro do mesmo ano), Luís Peixoto colocou nova letra, rebatizou-a como Iaiá, que acabou famosa como Ai, Ioiô, e entregou-a a Aracy.
Sucesso imediato no palco e definitivo em disco, com prêmio ganho até na Alemanha.
A voz de Aracy Cortes tinha o “toque de Midas”.
Nada mais natural, portanto, que fosse assediada por todos os grandes compositores.
Desde o maestro Paulino Sacramento, seu mestre musical, de quem lançou o samba Ai, madame, logo na estreia, até o consagrado Ary Barroso, todos a cortejavam. E ela rainha que era, aceitava tranquilamente a corte.
De Ary começou logo com Vou à Penha e Vamos deixar de intimidade (ambos, depois gravados por Mário Reis), lançados na revista Laranja da China, de Olegário Mariano, no Teatro Carlos Gomes, em 1929.
Lançou no teatro e no disco (de Ary e Lamartine Babo), Gemer num violão e, só de Ary, o citado Graça de Aracy, além de Eu sou do amor, Orgia, Boneca de piche, Deixa disso, Na batucada da vida, entre os mais conhecidos.
Noel Rosa, que pouca gente sabe ter andado pelo teatro de revista, entregou muito samba de sua autoria à voz de Aracy.
Em janeiro de 1931, na revista Deixa essa mulher falar, ela cantava do Poeta da Vila, Com que roupa?. Além deste, em outras revistas, Aracy voltou a interpretar Noel em primeira mão, com sambas depois consagrados em diversas gravações: Queixume, Gago apaixonado e Dona Aracy.
Muitos outros sambistas de respeito pediram a bênção à grande estrela. Wilson Batista contava que aos 16 anos, trabalhando como eletricista no Teatro Recreio, teve seu samba Na estrada da vida lançado por ela. Almirante viu seu clássico (em parceria com Candoca da Anunciação) Na Pavuna cantado por Aracy na revista Dá nela, no Teatro Recreio, em 1930.
Com tanto sucesso que virou nome de outra revista, montada por Freire Júnior no Teatro Cassino Beira Mar. De Ismael Silva e Nilton Bastos, ela lançou Se você jurar e, de Lamartine Babo, o samba Lua cor de prata e o antológico Canção para inglês ver.
Mário Lago entregou-lhe Beijei, e Custódio Mesquita fez para ela, em parceria com Paulo Orlando, O tempo passa. De Kid Pepe, Germano Augusto e Seda, Aracy imortalizou o samba Implorar.
Bastaria, enfim, a simples carreira de Aracy Cortes para justificar o teatro de revista como palco lançador de sucessos da música popular brasileira, em particular o samba. Grifo meu.
Mas, a revista ainda fez mais, durante algum tempo, antes de se tornar apenas um festival de plumas, pernas e piadas.
Grifo meu.
Em junho de 1941, por exemplo, estreava no Teatro João Caetano, sempre na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, a revista Brasil Pandeiro, de Freire Júnior e Luís Pereira, musicada pelo baiano Assis Valente. Luxuosa e feérica, a revista apresentava quadros empolgantes e apoteóticos, ideal para a sambista Horacina Correia, uma mulata transpirando ritmo, lançar o samba que dava título à revista: “O tio Sam está querendo / conhecer a nossa batucada. / Anda dizendo que o molho da baiana / melhorou seu prato. / Vai entrar no cuscuz, / acarajé e abará”.
No ano seguinte, Assis Valente volta à revista, musicando A vitória é nossa, de Geysa Bôscoli e Freire Júnior, e, em 1943, sempre tendo como pano de fundo a presença brasileira na Segunda Guerra Mundial, Assis e Freire se juntam de novo e encenam Rei Momo na Guerra, estrelado por Dercy Gonçalves. Grifo meu.
O ponto alto era a figura do compositor Geraldo Pereira e 150 passistas e ritmistas da Escola de Samba da Mangueira, que pela primeira vez evoluía em um palco de revista. Grifo meu.


Em 1944, Walter Pinto encena, assinada por Geysa Bôscoli e Luís Peixoto, a revista Momo na fila, sempre no seu reduto, o Teatro Recreio.
Novamente Dercy é a estrela, e o êxito alcançado no ano anterior leva a Mangueira de volta ao teatro de revista, desta vez uma mini-escola de samba completa, sempre dirigida por seu compositor Geraldo Pereira.
Para encenar To aí nessa boca, de 1949, J. Maia aproveitou a composição Que samba bom, de Geraldo Pereira, e criou a revista.
Não foi, porém, apenas Aracy Cortes que lançou grandes sambas e sambistas no teatro de revista. Mas, intérpretes de outros sambas alcançaram também sucesso, paralelas a Aracy, ou mesmo depois de a estrela entrar em declínio. Em 1933, por exemplo, quando da montagem de É batata, de Luiz Iglesias e Freire Júnior, da qual a própria estrela era Aracy, estava no palco uma estrela-mirim, apelidada Shirley Temple brasileira, que se chamava Isa Rodrigues.
O comediante Oscarito, oriundo dos circos e que já tinha projeção na revista, sua mulher Margot Louro e a atriz Eva Todor dividiam, com a revelação infantil, as preferências do público. Aracy Cortes cantava Mulher, samba do portelense João da Gente, e Isa Rodrigues, que se tornaria grande caricata, arrebatava o público, cantando com Oscarito, de Ary Barroso, No tabuleiro da baiana, que Carmen Miranda acabara de gravar.
O gênero – designado mais como batuque que samba -, uma apoteose de basilidade, a figura da “baiana” sempre agradando, às vezes a mulher branca fingindo-se de mulata, fora lançado nos palcos por outra sambista de bossa e talento, a bela Deo Maia. Grifo meu.
Esta sim, mulata autêntica, que por longos anos manteve seu sucesso no teatro de revista, sempre com uma multidão de fãs.
Fora do teatro, Deo Maia jamais conseguiu o mesmo êxito.
Ainda por muito tempo, o teatro de revista lançaria sambas e sambistas. As modificações sociais e políticas pelas quais passariam o Brasil não deixariam, porém, de atingi-lo e, ao fim dos anos 50, as coisas já tomavam outros rumos.
No final do ciclo como lançador de sucessos, o teatro de revista tem seu magnífico canto de cisne. Grifo meu.
No Teatro Carlos Gomes, na revista Branco tu é meu, em janeiro de 1952, Linda Baptista lança, de Lupicínio Rodrigues, o samba Vingança.
Praça Tiradentes e o teatro de revista
Centro nervoso dos teatros de revista do Rio de Janeiro, a Praça Tiradentes atraía compositores, músicos e cantores, à procura de emprego para seus talentos, nos muitos palcos iluminados, que faziam a cidade sonhar e cantar.
As casas de espetáculo não somente se multiplicam pelos vários espaços centrais da cidade, como se vão adequando aos novos estratos sociais emergentes, principalmente as classes médias.
Dentro desse contexto, a Praça Tiradentes e seu entorno constituíram-se em um dos privilegiados locais para divulgação e circulação dos artistas – em especial, músicos, compositores e cantores – do período.
Além de dos teatros João Caetano, Recreio, São José, Carlos Gomes, entre outros, onde se concentravam aqueles profissionais, bares e leiterias também representavam lugares de atração e de encontro para os que buscavam na praça uma oportunidade para exercer profissionalmente seus talentos.
Os mais procurados eram a Leiteria Dom Pedro II e o Café Carlos Gomes, onde hoje existe o Café Thalia, pontos de reunião de compositores como Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Wilson Batista, Henrique de Almeida, Roberto Martins, Bidê, Marçal, Jorge Faraj, Ataulfo Alves, Antonio Almeida e tantos outros.
Sabiam eles que, a qualquer momento, poderia surgir a chance de um trabalho ser aproveitado em uma das muitas revistas que eram encenadas nos teatros da praça. Custódio Mesquita, Ary Barroso, Sinhô, André Filho, Francisco Matoso já tinham se consagrado por ali e de repente a sorte poderia aparecer.
No caso de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, jamais conseguiram participar das revistas, mas acabaram por se encontrar nos bares da praça e formar uma das mais importantes parcerias da música popular brasileira.
A maioria dos cantores e compositores “ainda do time de aspirantes” frequentava a Praça Tiradentes, uma espécie de vestibular.
Depois de famosos e ganhando dinheiro para pagar elegantes alfaiates, já bem-sucedidos, transferiam-se para o Café Nice ou para o Café Papagaio, ao lado da conceituada Confeitaria Colombo.
Enquanto isso não acontecia, a solução era enfrentar as xícaras de café com leite nos botequins da Praça Tiradentes, compor os sambas em suas mesas, com tampo de mármore e pé de ferro, e aguardar que o sucesso os viesse resgatar dali, ou que o próprio teatro de revista se encarregasse de os fazer famosos.
Fonte: História do Samba (fascículos) - Editora Globo.










Ricardo Cravo Albin, o Grande. Autor: Jorge Eduardo Fontes Garcia



Ricardo Cravo Albin, um soteropolitano, pois nasceu em Salvador, 20 de dezembro de 1940, é um musicólogo brasileiro, sendo considerado um dos maiores pesquisadores da Música Popular Brasileira.
Alguns dados de sua biografia retirado do verbete do Ricardo Cravo Albin do Dicionário Cravo Albin da Musica Popular Brasileira:
Escritor. Pesquisador de MPB. Jornalista. Historiador. Crítico e radialista. Formado em Direito, Ciências e Letras (Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil 1959/1963). Oficial da Reserva do Exército Brasileiro (CPOR 1960/1961). Formado em línguas pelo Instituto Brasil-Estados Unidos (1958/1963) e pela Aliança Francesa (1958/1964). Cursou Direito Comparado na Universidade de Nova York entre 1964 e 1965. Por essa época, foi Diretor Cultural do "1º Festival Internacional de Cinema", do Rio de Janeiro. Por três anos (1967/68 e 69) atuou como "Julgador Oficial dos Desfiles do Grupo A, das Escolas de Samba do Rio de Janeiro". Entre 1966 e 1971, foi membro efetivo do Corpo de Jurados dos Festivais Internacionais da Canção Popular. Foi Chefe das Delegações Brasileiras junto aos "Festivais Internacionais de Cinema de Cannes", na França nos anos de 1970 e 1971. Em 1970 recebeu o título de "Cidadão da Guanabara", conferido pela Câmara dos Vereadores do então Estado da Guanabara. Fundador, convidado por governos estaduais, de Museus da Imagem e do Som em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Aracaju, Florianópolis, Brasília, Recife, Belém, Natal, Teresina, Dourados (MS), Manaus, Uruguaiana (RS), Volta Redonda e Londrina entre os anos de 1967 e 1985.
No ano de 1968 criou a Escola Brasileira de Música Popular - Museu da Imagem e do Som, com reitoria do maestro Guerra Peixe.
No ano de 1994 tornou-se "Sócio Benemérito" das escolas de samba Mangueira, Portela, Império Serrano, Salgueiro e União da Ilha e foi fundador e presidente do Conselho Consultivo de Pesquisadores da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba).
Membro Efetivo do PEN CLUB do Rio de Janeiro. Publicou diversos livros sobre vários assuntos, entre eles: "O canto da Bahia" (monografia/1973); "De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola" (1976); "Da necessidade do fazer popular" (1978); "Índia, um roteiro bem e mal humorado", Editora Mauad (1996); "MPB - A história de um século", edição trilingue MEC/Funarte (1997), lançado na Academia Brasileira de Letras, tendo como conteúdo a história de cem anos de MPB, contada por etapas de 20 em 20 anos e ilustrado com fotografias de gerações de músicos, cantores, conjuntos e demais criadores de música popular brasileira; "Um olhar sobre o Rio - crônicas indignadas e amorosas - anos 90", Editora Globo (1999); "MIS - Rastros de memórias", Editora Sextante (2000). No ano 2000 participou do "Salon du Livre", que homenageou o Brasil, em Paris. No ano seguinte, em 2001, foi empossado Presidente do Conselho Empresarial de Cultura da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Patrono da Filarmônica do Rio de Janeiro.
Membro da Academia Luso-Brasileira de Letras e membro da Academia Brasileira de Artes.
Membro vitalício da Academia Carioca de Letras e Membro da União Brasileira de Escritores (UBE).
Participou da publicação "Ritos e Ritmos", acompanhada de dois CDs: "O melhor da MPB" e "O melhor da música clássica", pela Editora Aprazível.
Em 2005 a Escola de Samba Paraíso do Tuiutí desfilou com o enredo "Cravo de Ouro - eu também sou da lira e não quero negar", em sua homenagem.
Em Washington/EUA; presidiu o Seminário musicado "50 años de la bossa nova", na Fundação Cultural Hispano-Brasileña, em Madrid, Espanha e no "Seminário Internacional de Direito Autoral - Os Novos Rumos", no Centro de Convenções do RB1, Rio de Janeiro.
Homenageado pelo plenário da Assembleia do Estado do Rio de Janeiro com o título de Cidadão Fluminense, ganhou a Medalha Tiradentes, da ALERJ.
Conferencista da Fundação Alexandre de Gusmão para o curso superior de diplomatas africanos no Itamaraty.  Em 2011 passou a apresentar o programa "Agora No Ar", na Rádio Roquete Pinto FM, no qual recebia diversos artistas de renome da MPB. No ano posterior, em 2012, idealizou e passou e a apresentar o projeto "MPB na Academia Brasileira de Letras", recebendo vários convidados para o talk-show, entre os quais Martinho da Vila e João Bosco.
Agraciado com a "Medalha Juscelino Kubitscheck - Diamantina", entregue pelo Governador de Minas Gerais. No ano posterior, em 2014, tomou posse como Presidente da Academia Carioca de Letras. Homenageado em setembro, deste mesmo ano, com a "Grande Medalha JK" pelo Governador do Estado de Minas Gerais.
Assumiu a Presidência do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, recebeu a "Medalha de Honra da Inconfidência" do Governo de Minas Gerais, em cerimônia presidida pelo Presidente da República Itamar Franco, na cidade de Tiradentes e a "Medalha Pedro Ernesto", da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Ganhou a "Medalha do Pacificador - Ministério do Exército Brasileiro.
No "Dia do Diplomata" recebeu a "Comenda da Ordem do Rio Branco", em cerimônia no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
Em Budapeste o título de "Doutor Honoris Causa" pela Universidade Brancuse, da Romênia.
Na Wikipédia –
Cravo Albin fundou e dirigiu o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro entre 1965 e 1971.
Albin foi ainda diretor geral da Embrafilme e presidente do Instituto Nacional de Cinema (INC). É também autor, desde 1973, de aproximadamente 2500 programas radiofônicos para a Rádio MEC.
Uma das grandes conquistas é o Instituto Cultural Cravo Albin, uma sociedade civil, sem fins lucrativos, com sede na cidade do Rio de Janeiro, fundada em janeiro de 2001 com a finalidade de promover e incentivar atividades de caráter cultural no campo da pesquisa, reflexão e promoção das fontes que alimentam a cultura e, em especial, a música brasileira, visando a divulgação, defesa e conservação do nosso patrimônio histórico e artístico.
Sua maior obra é o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, disponível em meio digital, com cerca de sete mil verbetes.
Ricardo Cravo Albin publicou diversos livros sobre vários assuntos, entre eles: O canto da Bahia (monografia/1973); De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola (1976); Da necessidade do fazer popular (1978); Índia, um roteiro bem e mal-humorado, Editora Mauad (1996); MPB - A história de um século, edição trilingue MEC/Funarte (1997).

Bebo muito no Dicionário Cravo Albin da Musica Popular Brasileira, portanto, obrigado Ricardo, o Grande, por sua obra.

Jorge Eduardo Fontes Garcia

São Paulo, janeiro de 2016.