terça-feira, 26 de janeiro de 2016

100 anos de Pelo Telephone na masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 3

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 3



100 anos de Pelo Telephone

Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional”.
“Foi concebido em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. A melodia, originalmente, intitulava-se Roceiro e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô”.
Gravado na Casa Edison* através do selo Odeon Records, na voz de Bahiano.
Lançado em 20 de janeiro de 1917.
A Composição é de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido como Donga, nascido no Rio de Janeiro, 5 de abril de 1890 e falecido na mesma cidade em 25 de agosto de 1974, com 84 anos.
Mais, depois, o próprio Donga dividiu o credito com o jornalista Mauro de Almeida.
Mauro de Almeida (Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1882 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 1956) foi um teatrólogo, jornalista e compositor brasileiro.
Começou a carreira de jornalista na redação de A Folha do Dia, do Rio de Janeiro, como repórter policial e cronista carnavalesco.
Como compositor, entrou para a história da música popular brasileira por ter escrito em coautoria com Donga a letra de Pelo Telefone, oficialmente o primeiro samba gravado. Em 1918 compôs com Pixinguinha e Donga o samba O malhador, que foi interpretado por Baiano e gravado na gravadora Odeon.
Escreveu diversas peças de teatro, entre as quais Presidente antes de nascer, Adeus, Não lhe pague, Amor e modas, Viúva alegre, Com a corda no pescoço, Desarvorada do amor, Do cruzeiro ao cruzeiro, Cozinheira grã- fina, Decadência e Sempre chorada, algumas feitas em parceria com Luís Rocha e Cardoso de Meneses.
Foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), em 1917.

Mauro de Almeida  é colaborador na letra de O Roceiro, da parte que citava o telefone, que estava ganhado espaço no Distrito Federal/Rio de Janeiro, letra esta que foi apresentada no Cine-Theatro Velo e para a imprensa, em 1916, e também, nas modificações feitas por Donga para registar “ o Pelo Telefone”.
Concluindo: Graças ao êxito de O Roceiro, foi que o experto Donga a registrou, com algumas poucas modificações de Mauro de Almeida, na Biblioteca Nacional e em Cartório no final de 1916.
E assim entraram para a História do primeiro samba gravado no Brasil.
“ Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, nos anos 60, Donga daria outra versão (dilatando cada vez mais a lenda): a de que os autores da paródia eram os repórteres e que a letra fora mudada para "evitar complicações com as autoridades". Fonte: http://www.brasileirinho.mus.br/artigos/pelotelefone.html, por Marcelo Xavier
Num artigo de “ de fundo do Jornal do Brasil de 1917, indicando a co-autoria de João da Mata, Germano, Tia Ciata e Hilário”.
Foi composto num sarau de Tia Ciata, numa roda de partido-alto, portanto...
 “Mauro, em artigos de jornal, dizia que não havia motivos originais em "Pelo Telefone". O seu papel na criação era catalisar temas que flanavam pelas ruas, como os personagens de João do Rio. À época, o célebre "Peru dos Pés Frios" (como era conhecido) dizia que apenas acomodou os versos para a música que Donga havia lhe apresentado. "Tirei-os de trovas populares", revelou, pouco tempo antes de morrer. Alguns especialistas indicam que o refrão "ah, se a rolinha, sinhô, sinhô" seria um típico tema do Norte”, ou seja, “ de acordo com Bernardo Alves, "o Samba pernambucano aproveitado em 'Pelo Telefone'" tinha como letra original "Olha a rolinha/ Doce, doce/ Mimosa flor/ Doce, doce/ Presa no laço/ Doce, doce/ Do nosso amor/ Doce, doce." (in: A Pré-História do Samba, 2002, págs. 67-8).
“ Após o sucesso no Carnaval daquele ano, um jornal ainda publicou uma nova letra para "Pelo Telefone", dessa vez criticando tal usurpação de seu verdadeiro autor: "Pelo telefone/ A minha boa gente/ Mandou-me avisar/ Que o meu bom arranjo/ Era oferecido/ Para se cantar/ Ai, ai, ai, leva a mão à consciência, meu bem/ Ai, ai, ai por que tanta presença, meu bem/ Ó que caradura dizer na roda/ Que o arranjo é teu/ É do bom Hilário e da Velha Ciata/ Que o bom Sinhô escreveu/ Tomara que tu apanhes/ Pra não tornar a fazer isso/ Escrever o que é dos outros/ Sem olhar o compromisso." Fonte: http://www.brasileirinho.mus.br/artigos/pelotelefone.html , por Marcelo Xavier

Letra de Pelo Telefone:

O chefe da folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar

Ai, ai, ai
É deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás

Tomara que tu apanhe
Pra não tornar fazer isso
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço

Ai, se a rolinha, sinhô, sinhô
Se embaraçou, sinhô, sinhô
É que a avezinha, sinhô, sinhô
Nunca sambou, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

O peru me disse
Se o morcego visse
Não fazer tolice
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse-não-disse

Ah! ah! ah!
Aí está o canto ideal, triunfal
Ai, ai, ai
Viva o nosso carnaval sem rival

Se quem tira o amor dos outros
Por deus fosse castigado
O mundo estava vazio
E o inferno habitado

Queres ou não, sinhô, sinhô
Vir pro cordão, sinhô, sinhô
É ser folião, sinhô, sinhô
De coração, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

Quem for bom de gosto
Mostre-se disposto
Não procure encosto
Tenha o riso posto
Faça alegre o rosto
Nada de desgosto

Ai, ai, ai
Dança o samba
Com calor, meu amor
Ai, ai, ai
Pois quem dança

Não tem dor nem calor

“ E a polêmica não acaba aqui. A própria letra também é uma fonte de lendas que começa na sua concepção até trechos meramente paródicos que a tradição cuidaria de incorporar à música. Sabe-se que a origem dos primeiros versos é histórica. Tudo teria começado quando dois repórteres do jornal A Noite, Castelar de Carvalho e Eustáquio Alves, resolveram instalar, de brincadeira, uma roleta na entrada do vespertino, tentando provar que o Chefe da Polícia do Rio, Aurelino Leal, fazia vistas grossas à prevaricação na cidade, apesar do pretenso combate prometido. Por pelo menos dois dias, a redação se transformou na capital da jogatina.
Foi quando o jornal de Irineu Marinho publicou matéria denunciando a suposta negligência da polícia, tentando desmoralizar Aurelino. Como as diligências eram informadas por via telefônica, a história correu solta. E a letra ficou assim:
"O Chefe da polícia/ Pelo telefone/ Mandou me avisar/ Que na Carioca/ Há uma roleta/ Para se jogar..."
Contudo, Donga disse, tempos depois, que a letra original era
"O Chefe da folia/ Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que com alegria/ Não se questione/ Para se brincar."
Não é o que ele canta ao receber das mãos de Hebe Camargo, ao ledo de Chico Buarque, um troféu como podemos ver no:


 https://youtu.be/X99_DMzHPNg  

Mais pelo sim, ou pelo não, nesse ano celebramos os 100 anos, o centenário, da gravação de “ Pelo Telephone”, e ponto final no assunto.



Donga organizou com Pixinguinha a Orquestra Típica Donga-Pixinguinha.
Em 1919, ao lado de Pixinguinha e outros seis músicos, integrou, como violonista, o grupo Oito Batutas, que excursionou pela Europa em 1922.


Graças aos subsídios proporcionados por Arnaldo Guinle e o empresário Roberto Marinho, do jornal O Globo, que eles puderam se apresentar Brasil afora e no exterior.

Em 1926 integrou a banda Carlito Jazz.
Em 1940 Donga gravou nove composições (entre sambas, toadas, macumbas e lundus) do disco Native Brazilian Music, organizado por dois maestros: o norte-americano Leopold Stokowski e o brasileiro Villa-Lobos, lançado nos Estados Unidos pela Columbia.
No final dos anos 50 voltou a se apresentar com o grupo Velha Guarda, em shows organizados por Almirante. Enviuvou em 1951, casou-se novamente em 1953 e foi morar no bairro de Aldeia Campista, para onde se retirara como oficial de justiça aposentado. Doente e quase cego, viveu seus últimos dias na Retiro dos Artistas.
Está sepultado no Cemitério São João Batista.

Álbuns
1928. Não diga não / Carinhoso: Gravadora Parlophon
1928. Teus beijos: Gravadora Parlophon
1928  Lamento/Amigo do povo: Gravadora Parlophon
1929  O meu tipo: Gravadora Parlophon
1938  O corta jaca / Pelo telefone: Gravadora Odeon

Casa Edison foi uma das primeiras gravadoras brasileiras, fundada em 1900 por Fred Figner ou Frederico Figner, um emigrante tcheco de origem judaica e honrado, post-mortem, com o merecido título de “o mais brasileiro de todos os estrangeiros”, no Rio de Janeiro.
Importava e revendia cilindros fonográficos (utilizados nos fonógrafos de Thomas Edison) e discos (utilizados nos gramofones de Emil Berliner).
Em 1902, lança o que é considerada a primeira música brasileira gravada no país, o lundu ‘Isto É Bom’ do compositor Xisto Bahia na voz de Bahiano.
Desde a fundação, passa a ser representante da Odeon Records administrando os vários selos que a empresa alemã possuía e, a partir de 1912, também a fábrica que aquela companhia abriu no Rio de Janeiro naquele ano.
Em 1926, a gravadora perderia a representação da Odeon e, no ano seguinte, passaria a gravar pelo selo Parlophone até que, em 1932, sairia definitivamente da indústria fonográfica, passando a operar com máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos até encerrar suas atividades em 1960.


Bahiano, no civil Manuel Pedro dos Santos, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia, no dia 5 de dezembro de 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 15 de julho de 1944, foi pioneiro nas gravações fonográficas na Casa Edison, com o lundu de Xisto Bahia, Isto É Bom, primeiro disco para gramofone gravado no Brasil.
Dentre os gêneros mais abundantes em sua discografia estavam as modinhas e os lundus.
Gravou, em janeiro de 1917, o samba Pelo Telefone considerado a primeira gravação fonográfica de um samba.
Era conterrâneo e amigo de Tia Ciata.




Os Grandes do Samba
Da esquerda para a direita:
Cascata, Donga, Ataulfo Alves, Pixinguinha, João da Baiana, Ismael Silva,

Alfredinho do Flautim.

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