O mundo fica pasmado ante La Alhambra
(em árabe: الحمراء;
"a Vermelha") localizada em Granada, Andaluzia, Espanha, em posição
dominante no alto duma elevação arborizada na parte sudeste da cidade.
Trata-se dum rico complexo
palaciano e fortaleza (alcazar ou al-Ksar) que alojava os monarcas da Dinastia
Nasrida e suas Cortes até 2 de janeiro de 1492, quando o Sultão Boabdil (Abû
`Abd Allâh Mohammed ben Abî al-Hasan, em árabe:
أبو عبد الله محمد
الثاني عشر) se rendeu aos Reis
Católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela).
A Dinastia Nasrida foi “ a última
dinastia muçulmana na península Ibérica, fundada por Maomé ibn al-Ahmar na
sequência da derrota dos Almóadas, os berberes, que chamam a si próprios
Imazighen, ou seja, "homens livres"; singular Amazigh, que
conquistaram o Norte da África até ao Egito, que ocuparam sucessivamente grande
parte de al-Andalus (nome dado à península Ibérica pelos seus conquistadores
islâmicos do século VIII).
A derrota dos Almóadas na
batalha de Navas de Tolosa, de 16 de julho de 1212, perto de Navas de Tolosa,
Espanha, provocou o colapso do Califado de Córdoba - a forma de governo
islâmico que dominou a maior parte da Península Ibérica e do Norte de África
com capital em Córdoba – e a divisão deste imenso territorio em 39 pequenos
reinos, as Taifas.
Foram 20 Reis, com os Títulos
de sultões ou emires, da Dinastia Nasrida que reinaram em Granada entre 1238 e 2
de janeiro de 1492, sendo o primeiro Abu `Abd Allah Mohammed ben Yusuf ben Nasr,
que governou como Maomé I, chamado Al-Hamar (o vermelho) por ter a barba ruiva,
de 1238 até 1273, um membro dos Banu Nasr, família que afirmava proceder de um
dos Sahaba, os companheiros do Profeta Maomé durante a Hégira.
Foi Maomé I que iniciou a
construção da Alhambra
“ O estilo granadino na
Alhambra é o culminar da arte andaluza, o que ocorreu em meados do século XIV
durante os reinados de Yusuf I (1333-1354) e Maomé V (1354-1391). Os
esplêndidos arabescos do interior estão relacionados, entre outros monarcas, com
Yusef I (ou Iusuf I), Maomé V, Ismail I, portanto o seu verdadeiro atrativo são
os interiores, cuja decoração está no cume da arte islâmica”.
Logo, “ a Alhambra foi
transformada numa cidade palaciana, e nela foi construído um sistema de canais
– o mais importante o Canal do Sultão - para a irrigação de seus jardins, como
podemos ver até hoje em El Generalife (en árabe: جَنَّة
الْعَرِيف), a Vila
construída para ser utilizada como lugar de descanso para os soberanos”.
No interior dessa cidade
palaciana, violentada desde da entrada dos Reis Católicos que “ começaram a
alterar o complexo arquitetônico, mas cujos os trabalhos inacabados foram
cobertos de cal, sendo apagadas as pinturas e os dourados, e tendo seu
mobiliário destruído ou levado para outros locais”, foi construído a partir de
1527 o Palácio de Carlos V, Rei de Espanha e Índias como Carlos I, Imperador do
Sacro Império Romano Germânico, e que desde 1958 , abriga o Museu de Belas
Artes de Granada e a partir de 1994, é também a casa para o Museu da Alhambra .
“Poetas mouros descrevem a
Alhambra como "uma perola encastrada em esmeraldas", em alusão à cor
dos seus edifícios e à dos bosques que os rodeiam”.
Por isso o mundo fica pasmado
ante A Alhambra.
Acontece que eu estava
assistindo a RAI - Radiotelevisione Italiana - o programa Camera con Vista, parla
di arte, architettura e archeologia; di “made in Italy”, scienza, tecnologia e
moda, e descobri Il Palazzo della Zisa, La Zisa - vem de "al-Aziz",
que significa "esplendor", ou seja, do árabe ' al-'Azīza, ou "a
bela"- do lado de fora das muralhas da cidade de Palermo, em meio ao
Parque Real Normando, il Genoardo - Jannat al-ard que em árabe que significa
"Paraíso na Terra".
O início da construção de La
Zisa foi em 1165 por ordem de Guglielmo I di Sicilia, detto “il Malo”, ou
Guilherme I, o Mau, soberano normando, membro da Dinastia Altavilla, que foi
Rei da Sicilia de 27 de fevereiro de 1154 até sua morte em 7 de maio de 1166.
Dinastia Altavilla, (em
francês Hauteville ), uma das famílias mais importantes e influentes do povo
dos normandos, sendo elevada à condição de Real em tempos de Tancredi (
Tancredo de Altavila, em francês: Tancrède de Hauteville), Conde Hauteville (hoje Hauteville-la-Guichard
), na Normandia, no século IX, cujos
filhos Roberto de Altavila (em francês: Robert de Hauteville), cognominado
Guiscardo, e seu irmão Rogério I, primeiro Conde da Sicília (em francês Roger
de Hauteville; em italiano Ruggero d'Altavilla; em latim Rogerius de Altavilla),
em 1061, empreenderam a conquista e a unificação política da " sul da
Itália , até agora, em grande parte nas mãos dos bizantinos (continente: Calábria
e Puglia) e árabes (Sicília).
Guglielmo I di Sicilia, detto
il Malo, era um bon vivant, e apesar das revoltas dos Barões, encorajados pelo
Papa Adriano IV, cujo reconhecimento ela ainda não tinha procurado, pelo Imperador
bizantino Manuel I Comneno , e pelo Sacro Imperador Romano Germânico Frederico
I, vivia “ la maggior parte del suo periodo di regno in Palermo, e la maggior
parte delle sue giornate - come sussurravano le malelingue - nei giardini e
negli harem del suo palazzo”,numa T.L. “ a maior parte do período de seu reinado
em Palermo, e a maioria de seus dias - como as fofocas sussurravam - nos jardins
e no harém do palácio”.
Como era um soberano presente
criou uma forma de governo com uma espécie de primeiro ministro, o amiratus
amiratorum, ou seja, o emir dos emires, entregando o cargo a Maione da Bari.
Anos mais tarde, libertado da
revolta liderada por Matteo Bonnel, o Bonello, segundo alguns o assassino de Maione
da Bari, nomeou os discípulos desse para os cargos de governança, o
Triunvirato, a saber: o Grande Protonotário Matteo d'Aiello (também chamado de Matteo
da Salerno), Silvestro di Marsico, terceiro Conde de Ragusa, Conde de Marsico
em Lucania, e Riccardo Palmer, ou Riccardo Palmier, Bispo de Siracusa, e
Arcebispo de Messina.
Enquanto isso Il Palazzo della
Zisa era construído com grande velocidade e grande despesas - “mira
celeritate, non sine magnis sumptibus”-
como descreveu um cronista.
Guglielmo I faleceu com 46
anos em 7 de maio de 1166, e a princípio foi sepultado na cripta da Capela
Palatina do Palazzo Reale de Palermo, hoje conhecido como Palazzo dei Normanni,
e sede da Assembleia Regional Siciliana, mas em 1182 Guglielmo II, seu filho e
sucessor, trasladou os restos mortais para o mausoléu na Catedral de Monreal, La
cattedrale di Santa Maria Nuova, construída a partir de 1174 por ordem desse
soberano, Guglielmo II.
Guglielmo II, detto il Buono,
ou Guilherme II, o Bom, subiu ao Trono da Sicilia em 7 de maio de 1166 com
apenas 11 anos, sob a Regência de sua mãe Margherita di Navarra, o Margherita
di Sicilia, e ficou nele até 11 de novembro de 1189, dia de sua morte.
Sem sair de seu Palacio Real
de Palermo empreendeu uma “ política externa ambiciosa e uma diplomacia
vigorosa”.
Intitulado “ Campeão do
Papado”, e um desafiante competente de Frederico, Barbarossa, Sacro Imperador.
Seu almirante Margarito di
Brindisi, um pirata bizantino mais um gênio naval, com 60 navios manteve o
leste do Mediterrâneo aberto para aos europeus, além de ter forçado a Saladino,
o todo-vitorioso, a levantar o cerco de Trípoli na primavera de 1188.
Casou com Joana, filha de
Henrique II, Rei da Inglaterra, Conde de Anjou, Conde de Maine, Duque da
Normandia, Duque consorte de Aquitânia, Conde de Nantes, Senhor da Irlanda, e
de Leonor da Aquitânia (em francês: Aliénor/Éléonore d'Aquitaine; em inglês:
Eleanor of Aquitaine) uma das mulheres mais ricas e poderosas da Idade Média, Duquesa
da Aquitânia e da Gasconha e Condessa de Poitiers por seu próprio direito.
Não tiveram filhos.
Na Divina Comédia, Dante
coloca Guglielmo II, detto il Buono, no Paraíso.
Enquanto isso Il palazzo della
Zisa era construído com grande velocidade e grande despesas - “mira
celeritate, non sine magnis sumptibus”-
como descreveu um cronista.
Mais voltemos a La Zisa, um
magnifico exemplar da arquitetura árabe-normanda- siciliana, no contexto da
cultura árabe-normanda – siciliana que possui forte influência bizantina, “ concebido
como residência de verão para os Reis Normandos, como uma parte do grande
resort de caça conhecido como il Genoardo”, acima citado.
Afirmam que os Reis Normandos
tinham em La Zisa um Harém - parte de um palácio em que habitam mulheres, ou conjunto
das mulheres, das odaliscas que aí habitam, mas eu considero que era um
pavilhão da caça e, também, uma garçonnière, um local destinado a encontros
amorosos.
O que mais me chamou atenção
foi o sistema de refrigeração feitos de acordo com as antigas técnicas de
construção dos egípcios e mesopotâmicos “ de modo que uma corrente de ar fresco
e húmido circula permanentemente no interior do edifício, e graças a esse um
engenhoso sistema de ventilação o interior do Palácio está sempre fresco, com
uma temperatura agradável ”.
É claro que foram instalados
um sistema de tanque no jardim, e fonte no interior, como a do salão principal,
bem ao estilo árabe.
Foi adornado com o estilo
"florido Kufic" e no século 14 foram acrescentados merlons, ou merlãos,
singular merlão, do francês "merlon", em arquitetura militar, é a
parte saliente do parapeito de uma fortificação, entre duas seteiras ou ameias.
A Alambra sempre pertenceu a
Espanha, mas La Zisa no século 17 foi comprado por Giovanni de Sandoval e
Platamone *, primeiro Principe de Castelreale (local onde está o La Zisa), Marquês
de San Giovanni la Mendola, cavaleiro de Alcantara, senhor de Mezzagrana e de
Zisa, e outros Titulos, que o restaurou e o adaptou “ às novas necessidades de
habitação da época”.
Nota: Sandoval - Una
delle più grandi famiglie della Spagna ( Família originária de Castela, de uma
povoação chamada Sandoval de la Reina localizada em Villadiego (Burgos)), come
vuole il Villabianca, originaria della casa reale di Leon ( como quer Villabianca, originalmente da casa real
de Leon), e stando al Baronio il privilegio si ebbe di batter moneta, essendo
di tal famiglia i conti di Castro e di Augusta, Adelantadi maggiori di
Castiglia, i duchi dell'Infantado e di Lerma, i marchesi di Vigliena, di
Villavezàr, i conti e signori della Ventosa, ed i marchesi di Carasena. Un
Giovanni di Sandoval e Paceco, 4° figlio di Antonio Sandoval Portocairero
signor di Carasena, la portò in Palermo sull'inizio del sec. XVII. Da lui al-
tro * Giovanni primo marchese di S. Giovanni la Mendola 1648, primo principe di
Castel- reale (Título concedido em 13 de junho de 1672, outras fontes 1671, por
Carlos II, Rei de Espanha), signor della Mezzagrana e della Zisa. Fiorirono
dappoi secondochè riferisce il Villabianca: un Diego investito 1680; un
Antonino 1704 deputato del regno e maestrorazionale del r. Patrimonio; altro
Diego 1757, per dritto dotale conte di Naso, duca di Sinagra, signore di
Capo-d'Orlando e del fondo Grande; un Giannantonio conte di Naso, letterato e
principe dell'accademia palermitana de' Pastori Erenei. Si estinse in casa
Notarbartolo di Sciara.
Levò per arme giusta
Mugnos: d'oro, con una banda di nero, ingollata da due teste di leone del
medesimo. Corona di principe. Sopporto due leoni d'oro.
Descrição do Brasão,
ou Armas, em português: De ouro, uma banda de negro.
Outros usam: de
vermelho, uma banda de branco
A Casa de Sandoval
dos Principe de Castelreale foi extinta com a morte de Dom Giovanni Antonio Sandoval
em 29 de setembro de 1806, que havia sido investido do Título em 20 de fevereiro
de 1789 pela morte de seu pai, Dom Giovanni Diego Sandoval. Foi investido como
Principe de Castelreale e Marquês de San Giovanni la Mendola em 26 de abril de
1809 o senhor Dom Francesco Paolo Notarbartolo ( ver abaixo).
Voltando:
“Durante estas obras foi
acrescentado outro andar, fechando o terraço, e construiu, na ala direita do
edifício, de acordo com a moda dos tempos, uma grande escadaria, com ressecção
das paredes estruturais e destruindo as escadas de acesso originais”.
Os novos proprietários:
Os Notarbartolo foram uma
importante família feudal de " aristocracia siciliana de origens medievais,
que contribuíram ´para o desenvolvimento social, político, intelectual e
artística da Sicilia. Os diferentes ramos da família foram senhores de vários
feudos, de títulos de nobreza, incluindo dois principados, um ducado, três marquesados,
um condado e mais de vinte baronias.
Brasão da família Notarbartolo:
Di azzurro, al leone coronato, accompagnato da sette stelle di sei raggi, il
tutto di oro; le stelle disposte tre per parte in palo e una in punta.
Em português: De azul, um leão
de ouro coroado, ladeado por sete estrelas de ouro de seis raios, três em cada
flanco, e uma estrela em ponta ou abismo.
Em 1806 La Zisa passou para as
mãos de Francesco Paolo Notarbartolo, quarto Principe di Sciara, que depois foi
Principe di Castelreale, Marchese di San Giovanni la Mendola (ver acima) por
causa de sua avoenga, Anna Sandoval, e que empreendeu uma grande reforma em La
Zisa.
Nota: o Título de Principi
di Sciara foi concedido por Carlos II, Rei de Espanha, em 13 de novembro de 1671,
a Filippo Notarbartolo Cipolla, Barão de Carcaci, de Sciara, e de Vallelunga.
Foram titulares:
1-
Filippo Notarbartolo, Principe di Sciara Barone
di Vallelunga, casou com Anna Sandoval em 4 de março de 1685 na cidade de
Palermo, filha de Don Diego Sandoval, Principe di Castelreale;
2-
Gaspare Notarbartolo, Principe di Sciara, filho
do precedente;
3-
Filippo Notarbartolo, Principe di Sciara, filho
do precedente;
4-
Francesco Paolo Notarbartolo, filho do
precedente,
Principe di Sciara,
Principe di
Castelreale, Marchese di San Giovanni la Mendola, Marchese di Bonfornello,
Miraelrio, San Giovanni, Conte di Priolo, Barone di Bombinetto, Buccheri,
Carcaci, Colla, Gasba, Landro, Magabeci e Manca, e outros Titulos;
Com continuidade até
Francesco di Paola Antonio Giovanni Maria Leopoldo Espedito Notarbartolo,
Principe di Sciara e di Castelreale, Marchese di San Giovanni la Mendola
* Palermo, Palermo,
01.05.1903
† Roma, 29.04.1962
São os atuais chefes
da Casa Notarbartolo:
Don Francesco Paolo
Notarbartolo, 11 Principe di Sciara, 8 Principe di Castel Reale, 8. Marchese di
San Giovanni, nascido em 15.01.1933;
Don Alberto
Notarbartolo, 6. Principe di Furnari, nascido em 21.04.1934;
Don Pietro
Notarbartolo, 10º Duca di Villarosa, nascido em
23.07.1979.
Uma boa descrição de La Zisa está
no site http://www.siciliafan.it/palermo-palazzo-zisa/:
que aconselho seja visitado.
Os Príncipes Notarbartolo
usaram La Zisa como residência até a década de 50, do século XX, quando o
Palacio foi desapropriado pela Regione Autonoma Siciliana.
O Palacio passou por uma restauração
da década de 70 e 80 finda a qual ele foi aberto ao público, e eu tenho muita
vontade de conhece-lo.
Jorge Eduardo Garcia
São Paulo 08/09/2016