quinta-feira, 14 de novembro de 2019

As senhoras do Palácio do Eliseu de Paris. Capítulo 13 Monsieur le comte d'Évreux et de Tancarville, maréchal de camp autor: Jorge Eduardo Garcia


Retrato de Louis-Henri do La Tour d'Auvergne
por Hyacinthe Rigaud (por volta de 1720),
hoje no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

Luis-Henrique de La Tour d'Auvergne é filho de Godofredo -Mauricio de La Tour d'Auvergne, Duque de Bouillon, d'Albret, de Chateau-Thierry, Conde d'Evreux,  d'Armagnac,  de Beaumont, par e grand chambellan de France, etc., e Marie-Anne Mancini , sobrinha de Mazarin, apelidada "l'enfant chérie de la reine" - "a filha querida da rainha", protetora de artistas como Jean de La Fontaine, que criou os filhos de sua irmã Hortense Mancini, a Condessa de Soissons, comprometida com o “Caso dos Venenos”.
“ O Caso dos Venenos ocorreu em Paris entre 1670 e 1682, e foi descoberto com a morte do oficial de cavalaria, Godin de Sainte-Croix. A  investigação revelou o envolvimento de  Catherine Deshayes, dita "La Voisin", e varias senhoras da nobreza como Madame de Vivonne (cunhada de Madame de Montespan, amante e mãe de filhos de Luis XIV), Madame de La Mothe, Mademoiselle des Œillets, a Condessa du Roure, a Viscondessa de Polignac, a Marechala de Luxembourg e muitas outras.
Olympe Mancini, « la perle des précieuses » , foi a segunda das Mazarinettes que tentaram ao jovem Luis XIV, que gostava daquilo à beça quase morreu lá pelos lados do mundo dos encantados, a primeira foi Marie Mancini, que casou com o condestável de Lorenzo Onofrio I Colonna, príncipe de Paliano, duque de Tagliacozzo.
Olympe Mancini estava em busca de venenos para se livrar de Françoise-Louise de La Baume Le Blanc, duquesa de La Vallière e de Vaujours, amante do rei e mãe de dois filhos legitimados: Marie-Anne , Mademoiselle de Blois , que se casou com Luis-Armando I de Bourbon-Conti, e Luís , Conde de Vermandois, e descoberta se mudou para Bruxelas e viajou para a Europa.
De volta a Monsieur le comte d'Évreux et de Tancarville, maréchal de camp, que por não ser o filho mais velho, não ser o herdeiro dos títulos e do principal do patrimônio, somente de algumas coisas à gosto dos pais, como a titularidade de conde d’Evreux que recebeu ao ser batizado, só tinha uma saída: realizar um casamento mais que vantajoso.
Nessa França do Seculo das Luzes  os burgueses podiam enricar e foi o caso de Antoine Crozat, um empreendedor que chegou a ser o primeiro proprietário da Louisiana francesa de 1712 a 1717 no território do hoje EUA, monopólio comercial  por 15 anos, o  francês mais importante no tráfico de escravos graças ao fornecimento deles para todas as colônias espanholas da America e para o EUA  através da Compagnie de Guinée,  que fez parte de um consórcio financeiro que comprou a fazenda de tabaco da Marquesa de Maintenon, que monopolizava  2,5 milhões de libras de tabaco vendidos a cada ano por Santo Domingo, depois de 1726 um dos quarenta fermiers généraux (no singular fermier général).
“ Nascido em Toulouse , França , filhos de comerciantes modestos, ele e seu irmão, Pierre , subiram da obscuridade para se tornarem dois dos comerciantes mais ricos da França”.
Pierre Crozat , dito “o pobre” por não ser tão rico quanto seu irmão, foi Tesoureiro da França em Montauban , tesoureiro dos Estados do Languedoc,  patrono das artes, um homem de bom gosto e um dos maiores conhecedores da arte de seu tempo.
Foi o comprador da coleção da Rainha Cristina da Suécia, em Roma, por “ a preços ridiculamente baixos, enquanto o papa Alexandre VIII, comprou a esplêndida biblioteca ‘por um pedaço de pão’".
Em 1729, aparece o primeiro volume de um vasto projeto chamado Coleção Crozat e quando morreu em 23 de maio de 1740, aos 79 anos, deixou toda a sua coleção (mais de 400 obras) para seus sobrinhos (filhos de Antoine), Louis-François (+ 1750 ), Joseph-Antoine ( +1750 ) , e Louis-Antoine (+ 1770 ).
Uma serie de vendas de desenhos (19.000) e entalhes foi organizada em Paris de abril e maio de 1741e a outra parte das obras pertencentes a Pierre  Crozat foi comprada em 1772, graças ao príncipe Dmitri Alexeievich Gallitzin, ministro extraordinário e plenipotenciário da Imperatriz de todas as Rússias junto ao rei de França e de Navarra, e a Denis Diderot, para Catarina II, hoje o núcleo central da coleção do Museu Hermitage, em São Petersburgo.
O príncipe Dmitri Alexeievich Gallitzin foi, também, quem comprou a Biblioteca de Diderot ( em torno de 2900 livro) para a czarina russa.
 Antoine Crozat, agora tesoureiro da Ordem do Espírito Santo, como conselheiro financeiro de Luis XIV recebeu o título de marquês de Châtel
Casou com Marie Marguerite Le Gendre d'Armény, e foram pais de:
1.       Louis François Crozat , marquês do Châtel, secretário do rei em 1741.
2.       Marie-Anne Crozat que se casou com nosso herói  Luis Henrique de La Tour d'Auvergne, conde de Evreux;
3.       Joseph-Antoine Crozat que se casou em 1725  com Michèle Catherine Amelot de Gournay;
4.       Louis Antoine Crozat , barão de Thiers, que se casou com  Louise Agostinho de Montmorency-Laval
A nobreza o considera “un parvenu de la pire espèce/ um arrivista da pior espécie”, mas casam seus filhos com os filhos do novíssimo marquês de Châtel.
Ao lado: Antoine Crozat (1655-1738), usando o colar da Ordem do Espírito Santo Óleo sobre tela de Alexis Simon Belle, Museu Nacional do Palácio de Versalhes.
Vamos a uma historinha:
Ora, a burguesinha mimada , única filha de um homem recém enobrecido e riquíssimo, devia sonhar com voos mais alto, e aí o mel caiu na sopa.
Luis-Henrique de La Tour d'Auvergne de uma antiguíssima família da Alta Nobreza estava literalmente dando sopa.
Luis XIV não tinha como não consentir esse casamento, ela com 12 anos, ele com 32 anos, mas o que isso importava?
E em 3 de agosto de 1707, os pombinhos se casaram.
Segundo uns o dote foi ínfimo e dado pelo tio da noiva, Pierre Crozat, no valor de 15.000 Livres, segundo outros a fabulosa soma de 2 milhões de Livres – eu não tenho ideia de quanto podia valer essas quantias hoje, mas creio que deveriam ser somas fabulosas.
Para aumentar a fortuna do genro, o marquês Antoine Crozat conseguiu sua nomeação em 1716 como governador de Poitou ( hoje os departamentos atuais de Vendée ( Lower Poitou ), Deux-Sèvres e Viena ( Haut-Poitou ) e do norte da Charente e parte do oeste de Haute-Vienne e sua capital era Poitiers), e em 1719 como governador da Ilha de França( Paris, Seine-et-Marne, Yvelines,  Essonne, Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis, Val-de-Marne, Val-d'Oise).
Os condes d’Evreux moravam no 19,  Place Vendôme, também denominado Hotel d'Evreux, mandado construir para eles por Antoine Crozat a Pierre Bullet, arquiteto francês.
Todavia, o conde d’Evreux queria uma casa no campo e comprou em 1718 uma propriedade do arquiteto Armand-Claude Mollet, localizada na estrada para a vila de Roule, a oeste de Paris, ( hoje a rue du Faubourg Saint- Honoré, 8º arrondissement de Paris), fazendo parte do contrato de compra e venda que o vendedor era obrigado a construir para o comprador uma casa, um ‘ hôtel particulier’.
A exigência era que l’ hôtel particulier tinha que ter um pátio de entrada e um belo jardim.
Finalizado e decorado em 1722 e, embora tenha sofrido muitas modificações, desde então continua sendo um exemplo do estilo clássico francês.
Assim se conta essa historinha de como “surgiu” o atual palácio do Eliseu, e onde ainda Hotel d’Evreux faleceu muito pimpão seu inspirador Luis-Henrique de La Tour d'Auvergne no dia 3 de agosto de 1753 com 74 anos.
Os condes d’Evreux não tiveram filhos, mas “ quando Deus não dá filhos, o Diabo dá sobrinhos e sobrinhas”, como afirmava Leão Gondim de Oliveira, jornalista cofundador dos Diários Emissoras Associados junto com seu primo Assis Chateaubriand.
E os sobrinhos dos d’Evreux venderam o hôtel particulier para Luis XV que deu para sua amada amante, madame de Pompadour, com veremos.
Reflexão:
Nada como dinheiro novo para doirar os velhos brasões d’armas.

O título de conde d’Evreux:
No seculo X, o primeiro conde d’Evreux que se tem notícia foi Robert, o dinamarquês, ou Roberto II, Arcebispo de Ruão (depois de 989 – 1037), conde de Évreux,  um poderoso e influente prelado que acumula uma função religiosa e uma função secular, ligado ao Ducado da Normandia.
Roberto II foi um arcebispo casado e pai.
Quando seu filho Richard ( Ricardo) de Evreux se tornou conde de Evreux em 1037 e o foi até 1067, Roberto II proclamou sua paternidade abertamente em uma carta solene que o  classificava como "Roberti archiepiscopi filiu”.
Richard ( Ricardo) de Evreux gerou Guilherme ( Guillaume) d'Évreux que foi conde d’Evreux de 1067-1118, e não teve filhos e o título passou ao filho de sua irmã Agnes casada com Simon I de Montfort, senhor de Montfort l'Amaury, de nome Amaury III de Montfort, que foi conde de 1118-1137.
Amaury III de Montfort gerou  Amaury IV, conde de 1137-1140
Amaury IV gerou Simon III de Montfort, o Calvo, conde de 1140-1181
Simon III de Montfort, o Calvo ,  gerou Amaury V de Montfort, conde de 1181-1182.
Amaury V de Montfort  gerou Amaury VI de Montfort, conde de 1182-1195, que partidário dos reis da Inglaterra, teve seus feudos na Normandia conquistados por Felipe II Augusto, rei de França de 1180 até 1223 ( 42 anos, 9 meses e 26 dias ), mas o rei João sem Terra, da Inglaterra, o elevou a Conde de Gloucester de 1200-1213.
O condado d’Evreux foi unido ao domínio real, a coroa de França, de 1200 a 1298 , ano em que Filipe IV o Belo, o rei da França,  deu a seu meio irmão Luis, conhecido como Luis d’Evreux.
Luis d’Evreux gerou Filipe III, rei consorte de Navarra por seu casamento com Joana II, rainha de Navarra, e conde d’Evreux de 1319-1343.
Joana II e Felipe III  gerou Carlos II de Navarra , conhecido como Carlos, o Mau, rei de Navarra de 1349 a  1387 ( 37 anos, 2 meses e 26 dias ) e conde d’Evreux de 1343-1378, que teve confiscado seus bens na Normandia pelo rei da França Carlos V.
Carlos II o Mau, gerou Carlos III o Nobre, rei de Navarra de 1387 — 1425, criador do título príncipe de Viana, na Espanha,  que reatou relações com o rei de França, se tornou Duque de Nemours, e cedeu definitivamente o condado d’Evreux ao domínio real, a coroa de França, em troca de uma pensão do rei de França.
O título foi recriado em benefício de Pierre de Brézé  pelo rei de França em 1441 por sua atuação na Guerra dos Cem Anos, mas depois passou ao domínio real, a coroa de França.
Carlos IX, rei de França de 1560 – 1574 ( 13 anos, 5 meses e 25 dias ),  o recria para seu irmão Francisco ( François ) d’Alençon, que morreu de tuberculose em junho de 1584 sem filhos e com essa morte o título de condado d’Evreux retornou ao domínio real,  a coroa de França. 
Quando Frédéric-Maurice de La Tour d'Auvergne em 15 de setembro de 1642 cedeu à França seu principado de Sedan e Raucourt, recebeu o pariato de França, o título de conde d’Evreux, e de várias outras terras.
Aqui começa a titularidade de conde d’Evreux para a Família La Tour d'Auvergne, duques de Bouillon. 


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