Lava-Jato ajudou a dizimar partido. Mas se a economia estivesse caminhando bem, como no mensalão, o povão seria mais tolerante
Reparem: no eleitorado, o PSDB
tem dado banhos seguidos. Mas o PT ainda é mais forte na elite do que no povão.
Bem mais forte. Por exemplo: em eleições simuladas entre alunos de ensino médio
em colégios caros da cidade de São Paulo, Fernando Haddad ganhava no primeiro
turno. Isso resulta do espírito socialista da juventude — hoje centrado em
temas que vão da igualdade de gêneros e racial, até as famosas ciclovias —
turbinado por uma verdadeira doutrinação aplicada por professores entre os
quais ser do PT é até moderado.
Tudo considerado, caem na
esquerda: ciclovias, parada gay, pichação, fechar avenidas aos domingos,
atrapalhar tudo que é privado. Vão para a direita: 90 km/h nas avenidas
marginais, abrir ruas aos carros, privatizar até cemitérios, ganhar dinheiro.
O Uber é gozado. Sendo uma
multinacional americana, deveria ser odiada pela elite/esquerda, mas, sabem
como é, quebra um galho, funciona tão bem — melhor deixar pra lá.
Já os funcionários daquele
restaurante onde iniciamos esta história votaram quase todos no tucano João
Doria — que, aliás, não faz parte do grupo típico de frequentadores. Mais
exatamente, os garçons, caixas e cozinheiros votaram contra o PT.
Não, não são de direita. São
trabalhadores, por isso são antipetistas. Simples: dois anos atrás, o
restaurante tinha o dobro de funcionários. A crise foi cortando cabeças e
espalhando o temor entre os que ficavam. Temor e mais serviço, do que, aliás,
não reclamavam. Ao contrário, contavam animados que o movimento estava
voltando.
A Lava-Jato ajudou a dizimar o
PT. Mas se a economia estivesse caminhando bem, como estava na época do
mensalão, o povão seria mais tolerante. Até deixaria passar a tese de que
roubar era coisa de rico.
O mensalão é dinheiro de troco
diante do petrolão. Também era mais difícil de entender, porque os culpados
juraram inocência até o fim. Já agora, o pessoal confessa o roubo de centenas
de milhões de reais e dólares, ao vivo na TV. E não dá para dizer que roubam
mas fazem, ou que roubam para ajudar o partido do povo. Como dizer isso diante
de 12 milhões de desempregados, inflação acima de 10% ao ano, perda do poder
aquisitivo e colapso dos serviços públicos?
Dilma, Lula e sua turma
tentaram dizer que foi tudo culpa da crise do imperialismo. Não colou, lógico,
pois os mesmos Lula e Dilma alardeavam que seu governo sabia driblar as crises
dos outros. Além disso, os mais ou menos informados viram que, dos países
importantes, o Brasil é o único em recessão.
Por tudo isso, vai ser muito
difícil a recuperação do PT. O primeiro passo seria reconhecer o equívoco da
política econômica aplicada desde o segundo governo de Lula, quando, sob o
comando de Dilma, abandonou o projeto de estabilização e pró-mercado herdado de
FHC. Mas no debate do PT as primeiras vozes dizem que o partido se perdeu por
ter ido demais à direita.
Ora, o partido não se desviou
para a direita. Se desviou para a corrupção e para a velha politicagem
brasileira — aliás também condenada pelo “não voto” (nulos, brancos e
abstenções). Caímos no pior dos mundos: uma política econômica da esquerda
falida, a bolivariana, tocada por um partido que aderiu às piores práticas dos
velhos políticos.
Momento difícil, portanto.
A eleição deixou mais
perdedores do que vencedores. Os eleitores condenaram o PT, a esquerda velha e
corrupta, o modo de fazer política que nos atrasa há tanto tempo. Mas não ficou
claramente de pé uma nova agenda, a das reformas liberais e pró-mercado.
O prefeito eleito de São
Paulo, João Doria, falou dessa agenda. Também a defendeu o prefeito reeleito de
Salvador, ACM Neto, campeão de votos.
A questão é saber se foram
eleitos principalmente por causa dessa agenda ou se o fator dominante foi a
onda anti-PT e antipolíticos. Saberemos ao longo dos próximos meses,
dependendo, sim, da atuação desses prefeitos, mas que é limitada e local.
O serviço maior para a saída
da crise depende do da atuação do presidente Temer e sua base de deputados e
senadores. Sim, daqueles nos quais o povo não votou.
Complicado.
Carlos Alberto Sardenberg é
jornalista
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http://oglobo.globo.com/opiniao/o-desemprego-derrotou-pt-20243024#ixzz4MItBlTxo
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