O Fujão 
Continuamos dependentes de poucos atletas, mesmo contando com o generoso cofre aberto do governo federal 
O companheiro e mestre na crônica esportiva, Sílvio Lancellotti, privilegiou-me com detalhada mensagem, contestando as críticas que fiz ao desempenho da natação brasileira no Mundial de Kazan, quando chamei Cesar Ciello (foto) de “fujão”. Não competiu e deixou a delegação sem se despedir dos colegas.  
Lancellotti é experiente em cobertura de nível olímpico e tem autoridade para se manifestar. Aceito suas colocações, que sugerem bom debate, não só sobre a natação como o alto rendimento, em geral.
Somos, eu e Sílvio, do tempo em que não havia dinheiro público para o esporte. Várias vezes a família de Gesta de Melo precisou socorrê-lo na presidência da Confederação de Atletismo para não deixar atletas fora de eventos internacionais. Isso é real!
Mas, desde 2001 os tempos são outros. Os resultados deveriam seguir o volume de verbas disponíveis.
Vejam com quanto contou a CBDA  de verbas públicas para preparar nossos atletas, nos últimos dois anos, segundo o Ministério do Esporte:
F O N T E 
 | 
VALOR R$ 
 | 
| Bolsa Atleta | 
     7.521.875,00 
 | 
| Bolsa Pódio | 
    2.988.000,00 
 | 
| Convênios c/Governo | 
  13.204.002,75 
 | 
| Lei Incentivo Esporte | 
  20.871.733,06 
 | 
| Patrocínio Correios | 
  95.800.000,00 
 | 
| Lei Agnelo Piva | 
    3.500.000,00 
 | 
T O T A L 
 | 
143.885.610,81 
 | 
Mais:
Além desses recursos, os clubes onde treinam nossos atletas também captam recursos da lei de Incentivo ao Esporte, com o mesmo objetivo, “preparar delegações’… etc e tal. É a tal duplicidade de aplicações de verbas que tenho insistido.
Cielo, em especial, tem vários patrocinadores, os Correios entre eles. Faz sentido, pois a carreira de atleta é curta e, ao contrário “daqueles tempos” hoje é profissão rentável.
E, por ter muito dinheiro, é que se esperava uma equipe mais competitiva em Kazan, com resultados à altura dos investimentos, que não são de hoje, mas desde 2003! Há três ciclos olímpicos!
E de Cielo, em particular, profissional de altíssimo nível, que deve ter equipe multidisciplinar de gabarito inquestionável, o que torna mais difícil entender suas últimas participações. Principalmente, porque contou com dois elementos indispensáveis para a preparação adequada, tempo e dinheiro, além de técnicos experientes.
Esta realidade, que é a mesma de outras modalidades, surge a um ano dos Jogos Rio 2016 e confirma a tese de que a base foi esquecida, a massificação também. Não temos projeto de governo para isso. Mas, compete ao governo cuidar desse assunto?
Vejam como estamos perdidos, temos muito dinheiro na jogada, mas não sabemos de quem é a competência sobre o desenvolvimento do esporte!
Esta é outra discussão, que só voltará quando outro atleta “fugir” – no bom sentido –, de novo , da raia. Mas a realidade é que continuamos dependentes de poucos atletas, mesmo contando com o generoso cofre aberto do governo federal.
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