Sinagoga Portuguesa de Amsterdam.
Meu carinho pelos judeus já é antológico, e faço tudo para mantê-lo
memorável.
No dia de hoje, em 2 de agosto, mas do ano de 1675, foi inaugurada
a importantíssima Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, a Esnoga, em hebraico אסנוגה,
nos Países Baixos ou Holanda.
Na década de setenta do século XX, me foi presentado um
exemplar do Os Judeus no Brasil Colonial, de Arnold Wiznitzer, Livraria
Pioneira Editôra, 1966 - 218 páginas, pelo senhor Leão Gondim de Oliveira, um jornalista
de boa cepa, pernambucano de Timbaúba dos Mocós, que dizia com bom humor que a família
de minha avó paterna, os Fonseca, eram judeus, bem como de minha futura mulher (os
Azevedo), também, o era, para raiva de um cunhado seu e tio de minha esposa que
era um tremendo antissionista.
Eu levava na troça.
Comecei, então, a estudar sobre os judeus em Pernambuco sob
o Governo de João Maurício de Nassau-Siegen ou, simplesmente, Mauricio de Nassau,
o Brasileiro, Conde e depois Príncipe do Sacro Império Romano Germânico,
durante o Ciclo de nossa Historia Pátria denominado Invasões holandesas, projeto de ocupação da Região Nordeste do
Brasil pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.) durante o século
XVII. ( 1599 – 1654).
Fiquei sabendo da fundação da Sinagoga do Recife, a primeira
nas Américas - norte , central caribenha
e sul - o então chamado Novo Mundo, denominada
Sinagoga Kahal Zur Israel (em hebraico: קהל
צור ישראל, "Rocha de
Israel"), por judeus de origem sefardita, hoje Centro Judaico de
Pernambuco, Rua do Bom Jesus, 197, Recife Antigo, o que muito me impressionou,
até porque a família de minha mãe tem ligação com o histórico Recife Antigo .
O mais importante Rabino das Américas, que atuou na Sinagoga
do Recife, portanto, o primeiro Rabino foi o luso-holandês Isaac Aboab da
Fonseca (1605-1693) que chegou ao Recife em 1641 e ficou por lá durante 13 anos,
o que embasava a “mangação” de Leão Gondim, mangação essa, repito, que em nada
me afligia.
O tempo passou e em um romance ainda sem titulo, em um dos capítulos,
usei a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, como local de atuação de alguns personagens
baseados nos estudos que há muitos anos fiz sobre esse período.
O terreno para a construção da Sinagoga Portuguesa de Amsterdam,
projetado do arquiteto neerlandês Elias Bouman, foi comprado em 12 de setembro
de 1670, suas obras começaram iniciadas em 17 de Abril de 1671 e como já
sabemos, inaugurada em 2 de agosto de 1675.
Ora, a Congregação Portuguesa Israelita de Amsterdam foi
fundada por judeus de origem sefardita, os da Península Ibérica, e por isso
ainda hoje o Sefardi é utilizado como língua litúrgica.
Vivia-se o Século de Ouro da Holanda (século XVII) e esse edifício
monumental foi construído para manter viva a mais pura Tradição Judaica, viva a
Nação Israelita.
Temos que ver que como consequência da Reconquista,
movimento cruzado para expulsar os invasores árabes, a invasão muçulmana da Península
Ibérica, os judeus foram perseguidos.
A Rainha Isabel I de Castela e o Rei Fernando II de Aragão, que
mais tarde seriam chamados Reis Católicos, apoiados em um projeto feito pelo terrível
Tomás de Torquemada , Inquisidor-mor da Inquisição Espanhola, confessor da Rainha,
assinaram o Decreto de Alhambra , ou Édito de Granada, ou Edito de Expulsão, de
31 de Março de 1492, que determinava ou a expulsão ou conversão forçada da
população judaica da Espanha.
O prazo final para conversão ou emigração foi estipulado ate
o dia
31 de julho de 1492,
mas prorrogado até 10 de agosto do mesmo ano, portanto os judeus tinham no máximo
4 meses para largar tudo, suas casas, seus afazeres, e em bom português “dar no
pé” .
Historiador Luis Suárez, medievalista, membro de la Real
Academia de la Historia, docente de la Universidad Autónoma de Madrid, e de la Universidad
de Valladolid, nascido em 25 de junho de 1924, hoje com 90 anos, ficou impressionado
porque os judeus possuíam apenas
"quatro meses para fazer a decisão mais terrível de sua vida: abandonar a
sua fé para se juntar a ele [no reino, na política e na comunidade civil], ou
de sair do território para preservá-la”.
O Generalíssimo Francisco Franco Bahamonde, «Caudillo de
España por la Gracia de Dios», em 16 de
Dezembro de 1968, declarou o Édito abolido, mas só foi formalmente revogado em
21 de Dezembro de 1969.
Só depois de 477 anos alguém tomou alguma medita contra essa
perseguição nojenta.
Voltemos na História:
Cerca de 130.000 judeus fugiram para Portugal, para se juntarem
a população judia portuguesa composta por 50.000.
180.000 judeus habitavam Portugal e eles contribuíram com
seus recursos para o sucesso da “Era dos Descobrimentos”, da Epopeia Lusitana
no Mar Oceano.
Graças a Deus.
Contudo as riquezas geram inveja e no tempo de um Monarca abençoado
por Deus, o mesmo D-us de Israel, Dom Manuel, o Venturoso, nos anos de 1496 e
1497, todos eles seriam obrigados à conversão ao catolicismo, quer fossem judeus
portugueses ou espanhóis, e quem se converteram ficou conhecido como ‘cristãos-novos’.
A Bula Papal denominada Cum ad nihil magis de Papa Paulo
III, nascido Alessandro Farnese, 23 de maio de 1536, instituiu oficialmente a
Inquisição em Portugal que durou até 1821, portanto do Século XVI ate o primeiro
quarte do Século XIX, as vésperas da Independência do Brasil.
O primeiro Tribunal começou seus trabalhos na Cidade de Évora,
onde a Corte de D. Afonso IV, o Bravo, sétimo Rei de Portugal, da Dinastia de Borgonha,
habitava, em 22 de outubro de 1536, e a implacável perseguição começou, chegando
ate a Colônia do Brasil.
No reinado de Dom João I, o de Boa Memoria, da Dinastia de
Avis, de 6 de abril de 1385 ate 14 de agosto de 1433, por volta de 1596, os
portugueses de ascendência judaica
desejosas de voltar a praticar abertamente a sua religião, rumaram a Amsterdam,
nos Países Baixos, Holanda
Dom João I foi pai do Infante Dom Henrique, Duque de Viseu,
Senhor da Covilhã, dito o Navegador, também, conhecido como o Infante de
Sagres, por causa da Escola de Sagres, uma escola náutica, onde “o Infante investiu
a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia”,
mas que segundo alguns historiadores, também, recebeu investimento dos ‘cristãos-novos’,
os judeus conversos.
E lá foram os judeus, com suas riquezas, para uma nova vida
em um país que a Elite Dirigente, na sua maioria protestantes, respeitava as
religiões, e dava valor aos empreendimentos dos capitalistas da época.
“Capitale surgiu em
Itália nos séculos XII e XIII (pelo menos desde 1211) com o sentido de fundos,
existências de mercadorias, somas de dinheiro ou dinheiro com direito a juros”.
“O capitalismo se tornou dominante no mundo ocidental depois
da queda do feudalismo”.
“O capitalismo como um sistema intencional de uma economia
mista desenvolvida de forma incremental a partir do século XVI na Europa,
embora organizações proto-capitalistas já existissem no mundo antigo e os
aspectos iniciais do capitalismo mercantil já tivessem florescido durante a
Baixa Idade Média”.
“O termo capitalista refere-se ao proprietário de capital, e
não ao sistema econômico, e o seu uso é anterior ao do termo capitalismo,
datando desde meados do século XVII”.
“O livro Hollandische Mercurius usa o termo em 1633 e 1654
para se referir aos proprietários de capital”.
Reforma Protestante ganhara muitos adeptos na Holanda, como
ela tinha sido domínio dos Reis de Espanha, os Reis Católicos, e católicos radicais,
o Império Espanhol era o figadal inimigo, os judeus espanhóis se uniram aos
judeus portugueses, formando assim uma Nação em Diáspora, e se
auto denominaram “ Os Portugueses”.
Nenhuma ligação com a Espanha que estava em guerra com a
República Holandesa na época.
Os "Portugueses" foram pessoas de cultura, de
dinheiro e influência política.
As famílias judaicas de origem portuguesa ainda são prestigiadas,
por causa, exatamente, ao afluxo de judeus portugueses nos séculos XVI e XVII,
e por sua importância no desenvolvimento cultural e económico dos Países Baixos.
Fora do Estado de Israel e em nenhum lugar desse Mundo
Tenebroso, os judeus desfrutam de tanto respeito social como na Holanda.
Falemos propriamente da Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, que hoje faz aniversário de inauguração, localizada no “coração do Bairro Judeu”.
Falemos propriamente da Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, que hoje faz aniversário de inauguração, localizada no “coração do Bairro Judeu”.
Esta construção, mas também a forma do edifício em si, foi baseada
no Templo de Salomão de Jerusalém.
O estilo da construção é conhecido como o "estilo
elegante", é semelhante ao das igrejas protestantes deste período.
A Sinagoga fica em uma praça rodeada por edifícios de serviços,
que incluem o pátio em três lados.
Nos edifícios de serviços está o seminário Ets Haim
("Árvore da Vida") , fundado em 1616, portanto depois da construção da
Sinagoga.
Desde a restauração da 1953-1959 o auditório do seminário se
transforma numa sinagoga de inverno, com aquecimento central e iluminação elétrica,
pois a Sinagoga Portuguesa não é aquecida, como no século XVII.
Em Ets Haim está a biblioteca judaica mais importante no
mundo, Livraria Montezinos, graças a
doação de David Montezinos, um importante bibliografo, que em 1891 doou sua
coleção particular.
“O acervo da biblioteca é composto por 30.000 obras
impressas (a partir de 1484 até agora) e 500 manuscritos (de 1282 até os
séculos 20)”.
“Todos os aspectos de estudos judaicos, literatura, história
e ciência são representados na biblioteca”.
“As coleções são, portanto, o resultado da cultura sefardita
que se originou na Espanha e Portugal”.
Em 2003, a Biblioteca Ets Haim - Livraria Montezinos , foi
considerada Património Mundial da UNESCO, reconhecendo assim a importância
universal da biblioteca.
Ainda nestes edifícios estão localizados os escritórios,
arquivos, casas de funcionários, uma casa mortuária e o Rabinato
No interior da Sinagoga, por cima da porta principal está
escrito o Salmo 5, proteção contra os ímpios, de Davi, ao mestre de canto para
flautas, versículo 7 : “Na grandeza da tua benignidade eu entrarei em tua
casa."
O ano de 1672, ano em que o prédio deveria estar pronto.
E o nome Aboab, do Rabino-chefe a época.
O interior tem um
único espaço retangular com seus bancos de madeira que vieram de uma sinagoga construída em 1639
“O chão é coberto com areia fina, na velha tradição
holandesa, para absorver a poeira, umidade e sujeira de sapatos e para abafar o
barulho”.
Apesar de ser a maior Sinagoga do mundo, é uma das cinco Sinagogas
com um piso de areia.
Hechal data de 1744.
Hechal ou Hekhal, é um armário ou arca, ou ainda uma reentrância
de uma parede, onde os judeus guardam os rolos da Torah (Sifrei Torah) e deve
estar localizado/a em direção a Israel.
O nome Hechal era utilizado nos Templos de Jerusalém, para
se referirem ao Santuário onde estava o Santos dos Santos.
A condição de o telhado da Sinagoga em 1978 levou à restauração
concluída em 1993.
A restauração custou cerca de 8,5 milhões de dólares.
O governo pagou cerca de 3,8 milhões de dólares, enquanto Amigos
da Fundação Sinagoga Portuguesa de Amsterdam arrecadaram o resto da importância
necessária.
Em 20 de dezembro de 2011 a ex- Rainha Beatriz participou da
grande reabertura.
“O historiador David
Landes, em "A riqueza e pobreza das nações", viu na saída das comunidades judaicas da
península ibérica no século XVI um fator prejudicial para as sociedades e
economias ibéricas, anunciando o declínio de Portugal e Espanha no concerto da
nações, então no auge da sua influência.
"Quando os
Portugueses conquistaram o Atlântico Sul, eles estavam na linha da frente das
técnicas de navegação. A abertura para a aprendizagem com sábios estrangeiros,
muitos deles Judeus, tinha trazido conhecimento que se traduzia diretamente na
aplicação prática, e quando em 1492 os Espanhóis decidiram obrigar os seus
Judeus a adoptar o Cristianismo ou a sair, muitos encontraram refúgio em
Portugal, então com uma política mais relaxada face ao Judaísmo. Mas em 1497,
pressão da Igreja Romana e de Espanha levou a coroa portuguesa a abandonar esta
tolerância. Cerca de 70.000 judeus foram forçados a um baptismo meramente
formal. Em 1506, Lisboa viu o seu primeiro pogrom, que matou dois mil Judeus
"convertidos" (a Espanha já vinha fazendo o mesmo desde há duzentos
anos). A partir daí a vida intelectual e científica de Portugal desceu a um
abismo de intolerância, fanatismo e pureza de sangue.
O declínio foi gradual.
A Inquisição portuguesa foi instalada apenas na década de 1540 e queimou o seu
primeiro herético em 1543; mas só se tornou cruelmente amedrontados a partir de
1580, após a união das coroas portuguesa e espanhola sob a pessoa de Filipe II
de Espanha. Entretanto, os cripto-judeus, incluindo Abraão Zacuto e outros
astrónomos, acharam a vida em Portugal suficientemente perigosa para saírem em
grandes números.
… Os cientistas,
matemáticos e físicos cripto-judeus do passado tinham saído. Nenhuma outra
minoria dissidente apareceu para tomar o lugar deles… se os ganhos da troca de
mercadorias são importantes, esses ganhos são ainda pequenos comparados com os
ganhos da troca de ideias".
Não preciso dizer mais nada.
Desta Sinagoga saíram figuras de renome, rabinos, eruditos,
filósofos, banqueiros, fundadores de companhias de comércio internacional:
Gracia Nasi, Isaac de Pinto, David Ricardo, Menasseh ben Israel, Isaac Aboab da
Fonseca, Uriel Acosta, Baruch de Espinoza, entre outros.
Foi a partir dessa comunidade sinagoga que Baruch de Spinoza
foi famosamente expulso por seus escritos
E tenho dito
Jorge Eduardo Garcia
São Paulo 2 de agosto de 2014
Na Rua Piauí
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