quinta-feira, 19 de junho de 2014

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‘Game of Thrones’ na vida real - jornal O GLOBO - autor André Machado


Tiago de Molay, na fogueira - Tiago de Molay - Filipe IV , Rei de França, o Belo, o Rei de Mármore ou o Rei de Ferro,da Dinastia do Capetos Direto

Jornal O GLOBO digital

‘Game of Thrones’ na vida real

Fim do reinado de Filipe, O Belo, testemunhou a dissolução dos templários e um grave caso de adultério

POR ANDRÉ MACHADO
14/06/2014 6:00

RIO - Intriga. Traição. Adultério. Execuções cruéis. Perseguições. Não, não é um spoiler do último episódio da quarta temporada de “Game of Thrones”, que termina domingo: é a França de 700 anos atrás, imortalizada na ficção por outra saga célebre, “Os reis malditos”, série de sete romances de Maurice Druon. Em 1314, a França medieval viveu um ano, para dizer o mínimo, turbulento, sob o reinado de Filipe IV, conhecido como O Belo. Naquele longínquo ano, foi dado o golpe final na Ordem dos Templários, com a execução de seu último grão-mestre, Tiago de Molay, na fogueira. Também foi a época em que se revelou um escândalo de adultério envolvendo duas noras do rei, uma delas a esposa do primogênito, herdeiro do trono francês. O resultado foi a execução brutal dos dois amantes das princesas. Por fim, antes de o ano acabar, morreu o próprio rei, provavelmente de um acidente vascular cerebral, deixando temporariamente um vácuo de poder, já que seus três filhos reinaram brevemente em rápida sucessão, pouco acrescentando ao trono francês.

Heresia e morte na fogueira

A primeira cena dantesca do ano é a execução do grão-mestre templário Tiago de Molay na fogueira. A morte de Molay, junto com o preceptor templário na Normandia, Geoffroi de Charney, foi o último ato da dissolução da Ordem, que começara em 1307, com a prisão de vários membros sob acusação de heresia, idolatria, ritos profanos de iniciação (como cuspir na cruz) e práticas homossexuais. A perseguição foi movida por Filipe IV, de olho no dinheiro templário, em conjunto com o Papa Clemente V.

— Havia muita cobiça com relação aos tesouros que os templários amealharam — diz Edmar Checon de Freitas, professor adjunto do Departamento de História da UFF. — A Ordem não se inscrevia apenas no binômio guerra e monasticismo: promovia, nos interstícios das monarquias feudais, uma circulação de riqueza que ultrapassava a de muitos príncipes de então, daí o desejo de se apoderar desses tesouros.

Torturados, os dois líderes inicialmente confessaram as acusações, mas depois negaram as confissões. De nada adiantou: ambos foram condenados à morte. Em 18 de março de 1314, foram queimados na fogueira. Antes de morrer, Molay teria dito, segundo registros da época: “Deus sabe quem está errado e quem pecou. Logo uma calamidade ocorrerá àqueles que nos condenaram à morte”. Coincidência ou não, o Papa Clemente V morreu um mês depois da execução, e o rei Filipe IV, em novembro.

— Não era incomum que condenados à morte amaldiçoassem e lançassem impropérios a seus algozes, uma vez perdida toda a esperança após o veredicto final — atalha Checon de Freitas.

Mas 1314 estava só começando. O rei Filipe tinha três filhos, pela ordem Luís (o delfim), Filipe e Carlos — casados, respectivamente com as princesas Margarida, Joana e Branca, todas da Borgonha. O monarca tinha ainda outra filha, Isabela, casada com o rei inglês Eduardo II. Em 1313, Isabela visitou as cunhadas e as presenteou com porta-moedas bordados. Mais tarde, num banquete em Londres, Isabela notou que dois cavaleiros normandos, Gautier e Filipe d’Aunay, estavam com as mesmas bolsinhas e desconfiou que havia cheiro de adultério ali. Não demorou a informar o pai. Avisado, o rei Filipe mandou vigiar as noras, e descobriu que Margarida e Branca traíam os maridos com os cavaleiros. Joana seria a alcoviteira que armava os encontros amorosos na Torre de Nesle, na margem sul do Sena. O desfecho foi terrível: os cavaleiros normandos foram mortos em 19 de abril de 1314 com requintes de crueldade após sua condenação.

— O cronista mais próximo da história diz que eles foram primeiro esfolados vivos, depois castrados (no sentido de ter toda a região sexual inutilizada, além da remoção dos órgãos) e finalmente decapitados — diz o professor.

Momento político de sucessão

Margarida e Branca tiveram a cabeça raspada e foram condenadas ao aprisionamento perpétuo. Margarida morreu de forma misteriosa, supostamente por maus tratos na prisão, pouco antes do segundo casamento de seu ex-marido, Luís. Houve rumores de que ele teria mandado assassiná-la. Já Joana terminou absolvida.

— Chama muito a atenção no episódio da Torre de Nesle o momento político da revelação da história, pois ela poderia complicar a sucessão do rei Filipe, O Belo, que já chegava perto dos 50 anos — pondera Edmar. — Isabela tinha interesse em revelar a história, pois assim seu filho, o futuro Eduardo III, poderia ficar em melhor posição na linha sucessória francesa.

Anos mais tarde, a própria Isabela tomaria o poder na Inglaterra junto com seu amante Roger Mortimer, derrubando o marido Eduardo II e temporariamente governando em nome do filho, Eduardo III.

— É de se supor que o rei Filipe IV tenha tido um enorme desgosto com o caso. Seus filhos traídos eram bisnetos de São Luís, um dos reis mais conhecidos por sua piedade e religiosidade — lembra Edmar. — E Filipe provavelmente se via inscrito nessa linhagem de reis profundamente devotos.

Em 4 de novembro de 1314, Filipe IV foi caçar com um tio numa floresta da Picardia e sofreu uma queda do cavalo, tendo um choque repentino e perdendo a fala. Levado para o Castelo de Fontainebleau, onde nascera, morreu no dia 29. Os eventos da Torre de Nesle afetaram sua sucessão: seu herdeiro, Luís X, morreu dois anos depois, e o irmão Filipe assumiu o trono após suspeitas sobre a paternidade da filha mais velha de Luís e a aplicação da Lei Sálica, que vedava mulheres no trono (Luís teve um filho, João I, mas este morreu com 5 dias de idade). Filipe V, por sua vez, morreu cedo sem deixar herdeiros homens, o mesmo acontecendo a seu irmão e sucessor, Carlos IV. Assim, o poder na França passou ao primo, Filipe VI. Mas desentendimentos deste com o rei Edward III, da Inglaterra, filho de Isabela, acabaram levando ao início da Guerra dos Cem anos, em 1337.


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