Rodrigo Mattos
Do UOL, em Toronto (CAN) 15/07/201506h01
Medalha de ouro no Pan-2015, o
ginasta Arthur Zanetti dava suas últimas entrevistas em Toronto quando foi
chamado por produtores da TV Globo para dar entrevista para o Jornal Nacional.
"Mas o Jornal Nacional é só à noite", contra-atacou o seu técnico
Marcos Goto. Em seguida, liberou o atleta para falar a reportagem.
A frase traduz o estilo
cortante e sincero do treinador que formou o campeão olímpico e levou a
ginástica masculina brasileira a um patamar nunca alcançado anteriormente.
Hiperativo, direto, meio provocador, meio showman, obsessivo pelo trabalho,
Goto, 48, se torna uma figura que atrai a atenção nos locais onde vai apesar de
seu 1,56 m.
Nunca foi uma dificuldade para ele expressar
suas posições, seja para microfones, seja em família. Óbvio, isso lhe rende
situações desconfortáveis. "Quem fala a verdade sempre tem problema. Pode
ser aqui (na ginástica), pode ser em casa", reconheceu.
Quando Zanetti brigava pelo ouro em
Londres-2012, reclamou da falta estrutura dada pelo COB (Comitê Olímpico do
Brasil). Deu certo. Agora tem um centro
de treinamento no Rio.
Em outra ocasião, seu enteado
Henrique Flores, que é ginasta, envolveu-se em um caso de racismo dentro da
equipe. Goto defendeu sua punição, mas ao mesmo tempo o preservou. É assim que
age com seus atletas: proteção e cascudo.
"Não sou de dar recado (no ouvido)",
disse, rindo, quando questionado sobre suas broncas nos atletas quando não
rendem bem. Tanto que o outro treinador com quem se identifica é Bernardinho,
da seleção masculina de vôlei. "A gente sempre brinca bastante sobre isso
(estilo)."
A exigência que faz sobre seus esportistas é a
mesma que tem consigo mesmo. Em seu dia a dia, tem a ginástica 24 horas por dia
na cabeça. "Pensei no movimento novo do Zanetti para Londres (que rendeu a
medalha de ouro) em uma corrida. Estou dormindo, acordo e penso em algo para
melhorar, levanto e anoto no caderno."
Essa obsessão o levou para longe de São
Caetano, de sua mulher, filha e seus bichos (cachorro, gato...), suas corridas
para ter melhores condições no Rio. Explica-se: só consegue trabalhar se tiver
uma dedicação plena. De outra forma, é melhor largar, contou.
Quando acaba o treino, e começa a competição,
Goto ressalta-se o estilo hiperativo no tablado, um contraste com a placidez de
Zanetti. No banco, gira, bate palma, fala com todos os técnicos em volta. Após
levantar seu atleta até as argolas, fica atrás
Arthur Zanetti posa com o
técnico Marcos Goto após mais uma conquista
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