Irmãs Luana e Lohaynny Vicente disputam a final de duplas feminina do badminton. Brasileiras ficaram com a medalha de prata
Bruno Doro
Do UOL, em Toronto (CAN)
Do UOL, em Toronto (CAN)
As irmãs Lohaynny e Luana Vicente nasceram no Morro da
Chacrinha, uma favela no bairro do Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. O pai morreu
em 2000. Era o chefe do tráfico do local e sofreu uma emboscada. As duas eram
crianças, tinham quatro e seis anos. Hoje, 15 anos depois, elas são a prova de
que é possível, sim, sonhar com um futuro diferente e com uma medalha
pan-americana, como a que conquistaram nesta quarta-feira. Mesmo quando você
nasce em um lugar em que as oportunidades raramente aparecem.
A chance das "irmãs Williams brasileiras"
surgiu do badminton, um esporte que cresce no Brasil justamente por causa de
projetos sociais em comunidades carentes, como a da Chacrinha. Elas aprenderam
a jogar no projeto MIratus.
Há dois anos, mudaram para São Paulo. Primeiro, Lohaynny,
a mais nova, veio para Campinas. Seis meses depois foi a vez de Luana. Hoje,
ambas defendem o Paulistano, tradicional clube da alta sociedade paulistana.
"Quando resolvemos sair da Chacrinha, muita gente
foi contra. Falavam que não iria dar certo. Que iríamos para um lugar cheio de
boyzinhos e que não seríamos aceitas. Mas o bonito do esporte é que não importa
a classe social da qual você saiu. Mas o quanto você se esforçou para chegar
até onde está. E mostramos que, com muito trabalho e resultados, você consegue
convencer quem não gosta de você a te respeitar. E isso é o que importa",
diz Lohaynny.
Quem fez o alerta sobre os boyzinhos foi Sebastião
Oliveira, que as apresentou ao esporte. "Acho que foi pelas coisas que ele
mesmo viveu. Mas nós nunca tivemos experiências assim. Nunca me lembro de
chegar em um local para treinar badminton e ser desrespeitada", conta
Lohaynny. Hoje, as irmãs não falam mais com Oliveira. Quando vão ao Rio, ficam
apenas com a família e amigos.
Respeito, aliás, ambas estão conseguindo aos montes. Nos
Jogos Pan-Americanos de Toronto, conseguiram a classificação para a final do
torneio feminino de duplas. Saíram com a prata, medalha inédita para o país.
Lohaynny ainda joga em simples e é uma das que pode se classificar para os
Jogos Olímpicos do ano que vem – só uma brasileira deve ir para o Rio-2016 e
ela é, atualmente, a segunda do país no ranking mundial.
Mais do que isso: elas são exemplos para quem olha para o
badminton como um esporte estranho, distante da realidade do país. "O
legal das duas é que provam que todo mundo pode ter uma oportunidade na vida. O
badminton, no Brasil, está ganhando muito espaço nesses projetos sociais. Isso
é muito legal. Sou fã das duas. E o melhor é que eles são apenas a ponta desse
processo. No futuro, muito mais gente como elas vai aparecer", avisa
Daniel Paiola, também medalhista de prata em Toronto, ao lado de Hugo Arthuso.
Lohaynny e Luana só tem uma coisa a lamentar. Não podem
seguir morando no Rio, perto da mãe e da avó. A cidade que vai receber os Jogos
Olímpicos não tem clubes (e nem infraestrutura) para a modalidade que
escolheram. "Mas não importa. Sempre que podemos, voltamos para o Rio e
fazemos uma visita. Estamos fazendo o que gostamos. E esse é o maior incentivo".
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