terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - autor: Jorge Eduardo Fontes Garcia

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA


No antigo Recife havia um grupo de negros conhecidos com SEMBA, e eram bons dançarinos. Não formavam uma nação, nem tão pouco uma grande tribo, eram parte dos bantos para lá levados.
Dizem que as negras sembas eram fogosas, prá la de sexuais, pela maneira como davam as suas ‘ umbigadas’ enquanto dançavam a famosa “ A masemba”- dança erótica de origem angolana ”.
“ Masemba significa umbigadas, portanto o plural de semba /umbigada, dança esta que deu origem ao " lundu ou lundum”, de "kalundu", um ser sobrenatural que dirige os destinos do homem”.
Apesar do lundum ser muito apreciado pelo senhor Dom Pedro de Alcântara, para mim “ O Pedroca”, que gostava de viver bem a vida, e foi nosso primeiro Imperador, para diferenciar do seu filho, também, Pedro de Alcântara, que me parece um chato de galocha, ele – o lundum-  era considerado, desde os tempos de Dom Manuel, o venturoso, como “contrário aos bons costumes”, e assim continuava , pois tanto a Corte vinda de Lisboa, quanto os habitantes , nativos ou não, que aqui estavam nos tempos dos Vice-Reis eram ‘tacanhos pra chuchu’.
Segundo André Diniz, pesquisador de música popular brasileira, em seu Almanaque do Samba – A história do Samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir – Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2006, “ Em terras brasileiras, a dança do lundu foi cultivada por negros, mestiços e brancos e, durante o século XIX, o lundu virou lundu-canção, sendo apreciado em circos, casas de chope e salões do Império”.
“ O lundum saiu de evidência no início do século XX, mas deixou seu legado, principalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe”.
“Pelo lundum ter a base rítmica africana, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, pelos rebolados e por outros gestos que imitam, é que ele é considerado um herdeiro da Masemba”.
Mais, o lundum foi levado do chamado “ mundo rural”, do ambiente mais periférico e ruralista, para o salão, num baile de carnaval na cidade do Rio de Janeiro, por um mulato chamado Maxixe, que o dançava num ritmo diferenciado.
No lundum a turma bate palmas, enquanto um casal dança.
No maxixe todo mundo dança ao mesmo tempo.
Daí ser considerada a primeira dança de salão realmente brasileira.
Ora, o local onde se mais dançava o maxixe era na Cidade Nova, bairro do Rio de Janeiro, local de negros, de ex- escravos, de seus descendentes e familiares.
Contudo, o maxixe – como a masemba e o lundum -  tinha um forte apelo sensual gerando preconceitos, e por isso considerado indecente.
Chiquinha Gonzaga, uma mulata, filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves de Lima, uma negra de origem humilde, a primeira mulher brasileira a reger uma orquestra, “ que desde cedo, frequentava rodas de lundu, umbigada e outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos”.
“Por volta de 1900, Chiquinha Gonzaga conheceu a irreverente artista Nair de Tefé, a primeira caricaturista mulher do mundo, uma moça boêmia, embora de família nobre, que se casou com o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca”.
Nair de Tefé convidou Chiquinha Gonzaga para os saraus no Palácio do Catete, e a compositora ousou, pois durante um deles foi lançado o “ Corta-Jaca”, um maxixe composto por ela, “sendo acompanhada no violão pela própria Primeira-dama”.



Eu sou fã de Dona Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, que nasceu no meu querido Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 e faleceu quando começava o Carnaval no dia 28 de fevereiro de 1935, uma mulher avant-garde como minha bisavó, Dona Minervina da Silva Alves, recifense, que de tão parecidas se diria que eram irmãs.
Letra do Corta-Jaca:
Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição

Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!

Esta dança é buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem dançar
Não há ricas baronesas
Nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar

Este passo tem feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó

Quem me vir assim alegre
No Flamengo
Por certo se há de render
Não resiste com certeza
Com certeza
Este jeito de mexer

Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso
Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta
Está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!

 

Reconhecido, mas considerado escandaloso, pois “ foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças vulgares, segundo a concepção da elite social aristocrática. Levar para o Palácio do Governo a música popular brasileira foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos”, o maxixe continuou sua trajetória, até que nasceu o SAMBA.

Continua. 

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